Vem chegando 2014 – Centenário na Colina Sagrada

Ademar A. Cirimbelli

Neste ano, estamos comemorando o Centenário da Paróquia São Marcos de Nova Veneza, criada em 31/7/1912, pelo então Bispo de Florianópolis, Dom João Becker.

O Homem de Deus, responsável pela implantação e consolidação da Paróquia, foi o Padre Michele Giacca, cuja biografia é exemplo de dedicação sem limites. Cinco anos após sua chegada à Colônia de Nova Veneza, liderou a construção da nova Igreja Matriz São Marcos, cuja inauguração se deu em 04/7/1916. Padre Giacca, como era chamado, permaneceu em Nova Veneza, de fev/1909 até sua morte em 05/3/1945, aos 67 anos de idade.

Como primeiro pároco, logo se preocupou, também, em dotar as novas comunidades interioranas de templos mais adequados. Assim, em 1914, obteve autorização do Bispado de Florianópolis para a construção de uma igreja mais ampla, de alvenaria, dedicada a Nossa Senhora de Caravággio. Segundo nosso historiador, Zulmar Hélio Bortolotto, na 2ª edição de História de Nova Veneza, 2012, págs. 281 e 282, recorrendo a folheto de autoria do Frei Dionísio: “O barro dos tijolos teve de ser amassado com os pés. A criançada da escola ajudava alegremente. Bois não existiam.

Os trabalhos eram feitos com sincera alegria. Tudo para a Madona de Caravággio. No mês de setembro do mesmo ano (08/9/2014) , foi realizada a benção da Capela de alvenaria”. Citam-se duas datas de 1914, para o início da construção dessa Capela: 21/3 e 21/5. Bem antes, “algum dia de 1891 ou 1892, erigiu-se um Capitel de madeira” (minúsculo oratório) , que abrigava tão-somente “a gravura, trazida da Itália por Giovanni Dondossola”. Este Capitel foi colocado sobre um grosso tronco de madeira, no alto da colina, segundo consta da publicação “Caravaggio em Nova Veneza-SC” e do site, de responsabilidade do próprio Santuário.

Em 1896, no lugar do Capitel, foi edificada uma Capela de madeira. “Era uma capelinha de tábuas, abençoada em 25/9/1897”. A partir de então, a Santa Missa passou a ser celebrada no Caravággio, sem que os fiéis se deslocassem à Igreja Matriz, em Nova Veneza.

Para ilustrar, confirmar e homenagear os que coordenaram os esforços para a grande transformação de 1914, buscou-se, junto ao Arquivo Histórico Eclesiástico de Santa Catarina, na Arquidiocese de Florianópolis, o ato de provisão dos primeiros fabriqueiros (pessoas encarregadas de administrar as coletas, doações e zelar pelo patrimônio da Capela), datado de 17/2/1915. São eles: Giovanni Spillere, Celeste Sachet e Davide Ferrari (documento abaixo).

A Capela de alvenaria serviu até a construção do atual Santuário Diocesano de Nossa Senhora de Caravaggio, amplo, com mais de 800 m² de área interna e 40 metros de comprimento. Sua construção teve início em 29/5/1963 e a inauguração deu-se em 1º/10/1967. É reconhecido como o maior centro de fé dos católicos da região sul catarinense.

Diz-se que “a música celebra valores” . A cantiga mariana do Padre Zezinho, “Foi Maria que me ensinou”, sintetiza o significado dessa reflexão. Quer no Capitel do início da colonização; na modesta Capela de madeira de 1896; no majestoso Santuário atual; na pequena Capela de alvenaria de 1914; ou no aconchego da família, o povo santo dá glórias ao Senhor e louva Maria, a Mãe de Deus, que o ensinou e convenceu que “pra gente se realizar, é preciso fazer o que Ele mandar”.

Florianópolis, nov/2012.

(A seguir, o ato de 17/2/1915 do Bispado de Florianópolis).Vem chegando 2014 - Centenário na Colina Sagrada

3 Comentários

  1. Adendo: Sobre o “fabriqueiro” Giovanni Spilleri (assim grafado), sabe-se que chegou à Colônia Nova Veneza em 24/2/1892. Tinha 41 anos, agricultor, casado com Angela, de 31 anos. Vieram com quatro filhos: Cristina (16),Maria (5), Silvestro (6) e Valentino (2), que seria identificado, mais tarde como o nono Nelo Spillere. Maria Spilleri, de 60 anos, também os acompanhou. Giovanni Spillere ocupou o lote nº 11, com 29,5 ha, da Seção 7: Rio Mãe Luzia (margem esquerda). Na mesma ocasião, vieram meu bisnono Giacomo Cunico (28 anos) e a bisnona Regina Sanson Cunico. (Fonte: pág. 384, obra citada). Giacomo Cunico localizou-se no lote nº 17, com 30,2 ha, na Seção 5: Rio Selva, denominação que homenageava F. (Federico ou Francisco) Selva, agrimensor e desenhista da Companhia Colonizadora. Com o passar do tempo, alguns imigrantes (em torno de trezentos) desistiram, transferiram suas propriedades e outros se relocalizaram, indo morar noutra Seção ou em outro Estado.

  2. Esclarecimentos adicionais:
    Na realidade, em 18/9/1891, chegaram à Colônia Nova Veneza dois Giovanni Dondossola, ambos agricultores. O 1º, “fu Pasquale”, tinha 33 anos, casado com Teresa (39). O casal chegou com os filhos Pietro, de 15 anos e Luigi, de 2 anos. O 2º, “fu Pasquale”, tinha 29 anos, casado com Virginia, de 36 anos. Com eles, vieram os filhos Pietro, de 4 anos, Maria, de 1 ano, e Luigi, com 7 meses. Obra citada, págs. 347 e 348. Possivelmente, cada qual tenha adquirido um lote de 30,2 ha e foram vizinhos.
    O ” fabriqueiro” Celeste Sachet era, originalmente, proprietário do lote 52 de 27,0 ha, situado na Seção 13, identificada como Estrada de Urussanga.
    Quanto ao “fabriqueiro” Giovanni Spillere, sua numerosa descendência poderia esclarecer-nos em que lote(s) sua família instalou-se, na então localidade chamada Seção Rio Bortoluzzi (Seção 11).
    Todas as contribuições são bem vindas.

  3. A denominação primeira de Caravaggio foi Rio Bortoluzzi, em homenagem a Gervasio Bortoluzzi, “recrutador de imigrantes” (também chamado agente), contratado pela companhia colonizadora. É o terceiro, na relação dos italianos que chegaram em 1891. Este aglomerado de imigrantes correspondia à Seção 11 do Mapa da Colônia de Nova Veneza. Esta Seção era composta de 31 lotes. Giovanni Dondossola ocupou os lotes 21 e 22, totalizando 60,4 ha; Davide Ferrari localizou-se no lote 25, com 30,2 ha. Fonte: História de Nova Veneza, 2ª edição de 2012, de autoria de Zulmar Hélio Bortolotto.