Imigração e impactos ambientais na Colonia Nuova Venezia

No final do século XIX, por meio de iniciativas governamentais e privadas, foram criadas diversas colônias para imigrantes italianos na região Sul de Santa Catarina. Este período também representa uma extrema e infeliz guinada para a história da natureza local. A introdução de colonos europeus provocou um acelerado desmatamento das florestas, ocasionando diversos conflitos socioambientais.

A Colonia de Nuova Venezia, situada entre os rios Urussanga e Araranguá, foi projetada através de um contrato de 22 de outubro de 1890, celebrado entre a empresa estadunidense Ângelo Fiorita & Cia. e o governo brasileiro – em 16 de junho de 1891 a empresa Ângelo Fiorita & Cia. passou todos os direitos e obrigações à outra empresa, a Companhia Metropolitana. A partir de 1891, Nova Veneza teve seus primeiros colonos estabelecidos, oriundos predominantemente das regiões italianas do Vêneto e da Lombardia.

De acordo com o Decreto n. 528, de 28 de junho de 1890, que serviu de base legal para o contrato firmado entre o governo e a empresa colonizadora, o ambiente físico é notado como elemento fundamental para a organização do empreendimento colonizatório, onde consta, no artigo 23, que “as propriedades deverão ser divididas em lotes, convenientemente providos de água, e de alguma mata para os misteres domésticos”.

Conforme os registros do padre italiano Luigi Marzano, a coivara – queima da vegetação para adubagem da terra com as cinzas – era um os sistema utilizado para o plantio nas colônias: “Preparato così il terreno col l’incendio, quali sono le piantagioni? La principale e più rimuneratrice è la seminagione del mais.” [“Preparado assim o terreno com a coivara, quais são as plantações? A principal e mais lucrativa é a semeadura do milho”].

O ambiente foi ainda mais exaurido em seus recursos com a extração do carvão mineral existente na região, o que já era previsto no Título Provisório de Terras que cada colono possuía com a Companhia Colonizadora, onde se observa que: “La Direzione della Colonia si riserva il diritto di esplorare il sottosuolo”. [“A Direção da Colônia se reserva o direito de explorar o subsolo”].

Conforme a expressão recorrente entre os descendentes de italianos, a situação da época impunha duas opções: “vencer ou morrer”. A prosperidade de uma família de origem italiana poderia ser auferida, entre outros fatores, por seus bens, pelas melhorias realizadas na propriedade e pela grande quantidade de filhos. Deste modo, “vencer na vida” também significava expandir suas posses e garantir que os filhos conquistassem seu espaço, de costume, através do matrimônio e a aquisição de uma propriedade para o novo núcleo familiar formado. Com isso, a natureza continuava a ser explorada cada vez mais.

Atualmente, precisamos reconsiderar a colonização sob uma perspectiva que extrapole apenas os ganhos econômicos. A vegetação nativa de Nova Veneza sofreu notáveis alterações ao longo do tempo, cedendo lugar às lavouras e habitações. Se os imigrantes não avaliaram os ganhos futuros proporcionados pela preservação, cabe a nós, seus descendentes, entender essa história de devastação, refletir e projetar um futuro mais sustentável.

Referência:
BORTOLOTTO, Zulmar H. História de Nova Veneza. 2ª ed. Florianópolis: Insular, 2012. 

Gil Karlos Ferri
Bacharel e licenciado em História – UFSC
Mestrando em História – UFFS
gilferri@hotmail.com

Imigração e impactos ambientais na Colonia Nuova Venezia
Sobre o autor: Gil Karlos Ferri é bacharel e licenciado em História pela UFSC, e atualmente cursa o mestrado em História na UFFS.
Pesquisa e leciona História, com ênfase em estudos ítalo-brasileiros, genealogias, migrações e História Ambiental.

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