Divórcio: onde ficam os filhos?

Modificações sociais, padrões culturais, tradições, religião: aspectos que podem envolver e conduzir o ser humano a ter o desejo de casar-se. Encontrar alguém, compartilhar sua vida, suas particularidades e individualidades. O casamento pode ser compreendido como a união de duas pessoas, contendo um contrato realizado com base em uma relação afetiva e sexual, mas nem sempre foi assim.

Nos tempos antigos, os casamentos eram “arranjados”, a noiva só conhecia o noivo após o trato já ter sido feito, pois haviam questões financeiras por trás da escolha, sendo que quem decidia essas questões era o pai da noiva. Hoje, após anos de modificações, em nossa cultura  a escolha de um companheiro/a é individual, ou seja, tanto os homens quanto as mulheres escolhem quem será o seu parceiro de vida. Ou não. Muitas pessoas optam por não casar-se, e focar sua atenção em outras coisas, e está tudo bem, cada qual possui a liberdade de escolher o que considera melhor para si.

Expectativas, preparação, casamento – seja ele oficializado ou não, geralmente tudo o que é mudança positiva em nossas vidas pode acabar gerando aquele “friozinho” na barriga. Para muitas pessoas o casamento é esperado, planejado e executado. As pessoas não se casam pensando em divórcio, pelo menos não quando há envolvimento afetivo.

Para que uma relação seja durável, saudável e benéfica para ambos é necessário muito diálogo, paciência, reciprocidade, apoio e abertura. Há momentos em que um deve ceder e há momentos em que o outro deve ceder. Esse é um exercício que pode ser difícil para algumas pessoas, e quando os filhos chegam, as coisas ficam um pouco mais difícil caso o casal não seja parceiro um com o outro. Torna-se difícil a sobrevivência em uma relação na qual existe investimento em apenas uma das partes, parceria é fundamental!

Dito isso, quando o casal percebe que está descontente com sua vivência enquanto casados e decide o divórcio, geralmente é pensado na história vivida, nos bens adquiridos, nos sentimentos que ficaram ou já se foram, na essência da história, e ainda, quando há filhos, a preocupação pode aumentar: como lidar com isso?

O divórcio pode ser encarado como um alívio, porém assim como qualquer ruptura na vida de um ser humano, pode gerar um luto diante da perca de papéis, da perca de bens materiais, da perca de uma rotina e isso precisa ser avaliado com cautela. Nem todos os divórcios são pacíficos, alguns são derivados de situações de angústia e sofrimento como violências, por exemplo, e nesse sentido a dor pode ser ainda maior.

Em um ambiente familiar é importante que haja sempre, diálogo e verdade. Quando se fala isso, quer dizer que os filhos também precisam saber da verdade. Independente do assunto, decisão ou questão que os envolva, eles possuem o direito de saber, e muitas vezes os pais que estão se divorciando sentem medo de contar à criança o que está acontecendo – mas é preciso falar a verdade. Mas para quê?

Nem sempre é fácil para a criança digerir que os pais irão morar em casas separadas, e torna-se ainda mais difícil para ela descobrir mais pra frente, que foi enganada. Pode gerar raiva, repulsa e consequentemente, deixar de confiar nos genitores. O objetivo deste texto não é avaliar o que é correto ou incorreto, mas sim, convidar o leitor a refletir sobre a importância do diálogo nas situações conflituosas da vida, e no caso, é o divórcio.

A reação da criança frente à decisão dos pais varia de acordo com a faixa etária, desenvolvimento emocional e cognitivo, tipo de relação com os pais. Não há como prever. Quando se fala de questões psicológicas de um ser humano, não é como uma receita de bolo: cada ser reage de uma forma singular, e por isso, é importante que o adulto saiba o que está dizendo, e acolha a reação da criança/filho.

Independente desta reação, muitas vezes é importante a busca por um profissional de psicologia para auxiliar a criança a organizar suas ideias frente a essa mudança que está ocorrendo: morar em outra casa, ou morar com apenas um dos pais, a longo prazo, aceitar a entrada de outra pessoa na família – um possível padrasto ou madrasta, enfim: são questões que precisam de suporte, e caso necessário, a psicologia tem muito a contribuir nesta questão.

Como nem tudo são flores, há muitos casos em que o divórcio pega os filhos de surpresa, e com isso podem surgir questões de sofrimento psicológico oriundos desta situação, caso não seja bem elaborada. Dificuldades na escola, modificação de comportamento, isolamento, sintomas de tristeza, entre outros. É importante deixar claro que cada criança/adolescente reage de forma diferente e que quando se tratam de seres humanos não há uma receita de bolo: somos individuais, diferentes e com particularidades. Por isso, é bacana que os pais estejam atentos ao comportamento dos filhos nesse momento, e caso necessário, busque um auxílio profissional.

Claro que ainda há a aceitação do divórcio pelas partes (o casal), e que estes também precisam de cuidado. Nem toda separação é realizada de forma pacífica, por isso, teremos um outro artigo em breve para refletirmos sobre o casal que rompeu seu laços de matrimônio.

O ser humano vive em relação. Um renomado autor, Jacob Levy Moreno diz que o homem adoece nas relações e cura-se nas relações, e quando diz isso, quer ressaltar que nas relações nós nos construímos dia a dia. Divorciar-se não é um “crime”, porém, quando este feito envolve filhos, é bacana ser realizado com um pouco mais de cuidado, para que todos saiam bem desta relação. Cuide-se!

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