O objetivo deste artigo é chamar a atenção de todos acerca das transformações (os puxadinhos e mudanças) que com uma certa frequência, estão sendo executadas nas fachadas externas do Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio.
Este artigo não foi pensado para indicar ou procurar culpados, pois, se as obras aconteceram, é porque houve a concordância licenciosa da comunidade
A igreja católica ao longo de dois mil anos construiu os maiores e mais bonitos patrimônios históricos da humanidade.
Vaticano, Paris, Milão, Colônia, Barcelona, depois Aparecida, Criciúma, Nova Veneza entre tantas outras basílicas, igrejas e catedrais, preservam até hoje as características arquitetônicas originais e este é o grande valor que faz com que estes monumentos sejam visitados e admirados por fieis e turistas do mundo inteiro.
No nosso caso em particular, o Santuário foi fruto de muito trabalho e doações voluntárias de todas as famílias que viviam aqui na década de 60, pessoas estas que foram denominadas de Benfeitores de Caravaggio.
A construção era composta de três entradas principais e quatro varandas laterais, todas simétricas e harmônicas, com detalhes e acabamentos que nos dias de hoje, não existem mais.
O projeto era tão perfeito, que até questões de ventilação cruzada e de luminosidade natural foram pensadas e introduzidas.
Aos poucos, demolições e obras foram feitas, sem qualquer critério ou preocupação com a arquitetura original, principalmente nas fachadas e varandas. Não discuto a construção da abóbada, pois o projeto nasceu quando se verificou a necessidade de reforma do telhado, que aliás, estava com sua estrutura comprometida.
Entretanto, as transformações anteriormente citadas, foram sendo executadas, tanto, na fachada leste, como, uma cobertura de gosto discutível na entrada principal. Um amigo chegou a comparar este ponto a uma doca de transportadora onde seus caminhões fazem as cargas e descargas ao abrigo das intempéries.
Interessante é que a maioria das pessoas com quem converso, criticam estas mudanças, porém não tem coragem de declarar publicamente. Outros vão dizer que porque eu pouco frequento o santuário, eu não deveria opinar.
O foco não é esse, o fato é que devemos preservar. Nos dias de hoje somos processados quando derrubamos uma árvore ou maltratamos um animal, neste viés, surge o seguinte questionamento: Será que pelo menos podemos criticar?
Aliás, Nova Veneza é destaque nacional na área do turismo, sendo que, muitas pessoas, vem ao nosso município diariamente para desfrutar da nossa gastronomia, das belezas naturais e do nosso maior patrimônio histórico que são as Casas de Pedra da família Sachet.
Caravaggio está na rota turística, cabe aqui mais um questionamento: Qual a impressão que terá o turista não religioso ao perceber as modificações?
Não podemos esquecer que em 1998, quando estava Prefeito, juntamente, com Renato Pieri, Alvino Mondardo, falecido Toni Gava e outras pessoas abnegadas, juntamos forças e conseguimos salvar o Salão Anchieta que estava em iminente risco de demolição por questões políticas.
Graças a Deus conseguimos restaurar (evidentemente preservando sua arquitetura) e até hoje este local é utilizado para uma gama de serviços prestados para a comunidade e fiéis visitantes.
Quem sabe este desabafo também sirva para que unamos as forças para restaurar a antiga casa do Nono Bépi que ainda está de pé, mas que, se não ficarmos alertas, poderá ser demolida, da mesma forma que queriam demolir o salão Anchieta.
Mas o maior absurdo, no meu entendimento, foi a descaracterização de três varandas (anexos das naves centrais). Era tudo perfeito, peitoril embaixo, peitoril no andar superior, acabamento com azulejos azuis e brancos, elementos vazados de qualidade, sistema de ventilação com entradas e saídas, enfim tudo combinando com as fachadas das entradas principais, tudo harmônico nas cores, cacos de ladrilhos e rebaixos.
Na foto abaixo é possível verificar, a última varanda original que sobrou, e convenhamos é muito mais bonita e harmônica do que as outras três que foram modificadas.
Aquele paredão inaugurado recentemente na varanda noroeste então é de uma pobreza arquitetônica tão visível, que vem uma tristeza muito grande só de comparar o antes com o depois.
As fachadas sudeste e sudoeste, foram também descaracterizadas, deixando uma péssima impressão.
Concluo, o presente relato, afirmando que, não há nada que possa justificar a necessidade da execução destas transformações acima apresentadas. Todos os locais que foram alterados poderiam, sim, serem melhorados internamente, sem que houvesse a necessidade de mudanças no visual externo. Aliás temos excelentes arquitetos na região que poderiam atender as demandas, mas com preservação. Enfim, um povo que não preserva sua história, se torna um povo vazio e sem alma. Sem orgulho de sua terra.