A Moda e a Crise

Na última quarta-feira participei de um bate-papo com uma das turmas de Tecnologia em Design de Moda do Senai, um momento único de troca de experiências, um bate-papo enriquecedor com gente jovem, cabeça fresca e que dentro de alguns poucos anos estarão no mercado como profissionais de moda. E conversávamos sobre a tal crise que vem balançando o país e como isso afeta diretamente o segmento e vem mudando nossa forma de comprar.

Estamos mudando a nossa percepção de valor e os nossos hábitos de consumo. Já falamos disso por aqui.  E não há como fugir da reorganização que uma crise causa em nossas vidas. Passamos a analisar melhor e pensar duas, três, dez vezes antes de comprar alguma coisa. E a única conclusão que conseguimos chegar foi a de que será feliz, nesse momento, quem for criativo. Sejamos nós, consumidores, sejam as marcas.

Aprofundando mais nessa questão, existe uma máxima que rege quase todos os mercados e que diz o seguinte:  na crise se você não for criativo, você morre. E se o próprio consumidor deve ser criativo e inovar, olhar melhor para o seu guarda-roupa, multiplicar os looks que ali estão, imagina então como devem agir as marcas. Porque para comprar, em um momento como esse, precisamos ficar realmente impactados por um produto.  Mas o que temos visto? Mais do mesmo. Mais daquilo que já temos. É só dar uma volta no shopping e constatar. Cadê o império das grandes marcas, cadê os grandes nomes da moda? Sumiram, se perderam na falta de criatividade, na prepotência de não analisar quem somos, do que gostamos, na praticidade do “mais do mesmo”. O medo de morrer, levou-os a morte, escondidos sob o manto negro e assustador da crise.

Certamente vocês podem estar pensando “de que adianta ter coisas novas, se não temos poder de compra”. Eu diria que, mesmo que reduzido, ainda temos algum dinheiro para gastar com nós mesmos, ainda temos vontade de comprar roupas, ainda temos desejos de tendências. Mas o que nos falta é o novo, é o sonho, é algo que mexa com a nossa emoção.

E isso é apenas o começo, porque consciência é um caminho sem volta. Essa consciência de consumo não mudará mais. A crise vai passar, o momento vai melhorar, mas a nossa exigência não vai mudar, simplesmente porque consciência não retrocede. Não voltaremos mais a pensar como antes. Poderemos voltar a consumir mais como antes, mas não da forma como era. Estamos exigentes, somos exigentes, queremos comprar roupas que dure, queremos tecidos de qualidade, queremos história, personalidade, queremos poucas e boas, mesmo que isso custe mais caro. Então, é preciso que as marcas fiquem atentas e percebam que talvez não estejamos comprando não somente por falta de dinheiro, mas porque o produto não nos interessa mais.

Os novos conceitos estão aí e as marcas devem escolher se adaptar a eles ou morrer por causa deles. Façam as suas apostas.

E para aquela turma de Moda que mencionei no início, que façam a diferença, que façam uma moda com conteúdo e personalidade, porque dos velhos padrões, estamos realmente satisfeitos. E certamente farão.

Andreia Bortolin