Sete mitos sobre o suicídio e por que eles devem ser combatidos

Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio, alerta para a necessidade de que o tema seja discutido com responsabilidade e foco em salvar vidas.

É setembro, mês em que a humanidade reflete sobre como prevenir o suicídio. Ainda mais num momento sem precedentes como o atual, quando, só no Brasil, mais de 4 milhões de pessoas já foram infectadas pelo novo coronavírus, e o número de mortos já ultrapassa os 130 mil.

Pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) mostra que 89,2% dos especialistas destacaram o agravamento de quadros psiquiátricos em seus pacientes em decorrência da pandemia da covid-19.

A ABP informa também que, no Brasil, são cerca de 10 mil suicídios por ano. E que cerca de 17% da população em algum momento já pensou em tirar a própria vida. Em todo o mundo o número se aproxima de um milhão de casos anuais.

“É consenso que a covid-19 colocou a população do planeta em alerta”, analisa Jocilaine Ferreira de Carvalho, psicóloga da Clinipam, empresa do Grupo NotreDame Intermédica (GNDI). “E as mudanças impostas por ela, como o isolamento social, o cenário de incertezas em relação ao futuro, o medo de perder o emprego e ser atingido por essa doença que já matou milhares de brasileiros deixaram as pessoas emocionalmente abaladas”, complementa. Porém, momentos de tristeza, insatisfação e frustração são inerentes à natureza humana, com ou sem pandemia, e nem sempre evoluem para um quadro depressivo que caracterize um transtorno mental.

“É comum que a pessoa com ideias suicidas dê sinais por meio de frases de alertas, como ‘tenho vontade de sumir’, ‘eu não aguento mais’, ‘eu não sirvo para nada’, ‘eu poderia estar morto’, ‘os outros vão ser mais felizes sem mim’, ‘eu sou um perdedor’, ‘minha vida não tem mais sentido'”, alerta Jocilaine.

Medo e vergonha de tratar do tema, ligado à dificuldade de procurar ajuda, e a ideia equivocada de que o comportamento suicida é eventual e não frequente, ainda são empecilhos pra identificar casos potenciais. Soma-se também a dificuldade de alguns profissionais da saúde em tratar do tema. O tabu faz com que os que já tentaram ou pensam em tentar se retraiam ainda mais.

Assim, é urgente saber o que é mito e o que é verdade na questão do suicídio. Deste modo, o GNDI elaborou uma lista com sete mitos relativos ao suicídio, que precisam ser derrubados para que o assunto seja discutido com a importância, o cuidado e o respeito com que merece ser tratado.

O suicídio é uma decisão individual. Cada um tem pleno direito ao exercício do seu livre arbítrio

FALSO: os suicidas estão sofrendo invariavelmente de uma doença mental que altera de maneira radical sua percepção de realidade, o que interfere em seu livre arbítrio. O tratamento eficaz da doença mental é fundamental para prevenir o suicídio. Com o tratamento realizado adequadamente, o desejo do suicídio desaparece.

Uma pessoa que pensa em suicídio vai viver com esse risco pelo resto da vida

FALSO: o risco de suicídio pode ser tratado de modo eficaz e definitivo. Depois desse tratamento, o risco acaba. “Os pensamentos suicidas podem retornar, mas não são permanentes, e em algumas pessoas, podem nunca mais retornar”, diz Jocilaine.

Quem ameaça se matar não comete o ato. É apenas uma maneira de chamar atenção

FALSO: a maior parte dos suicidas fala ou sinaliza suas ideias de morte. Boa parte deles expressou, em dias ou semanas anteriores, e com frequência aos profissionais de saúde, o desejo de tirar a própria vida. “A maioria das pessoas que pensam em se matar, na verdade, tem sentimentos ambivalentes (desejam colocar um fim a uma dor); sendo assim, as pessoas com comportamentos suicidas frequentemente dão ampla indicação de sua intenção”, lembra Jocilaine.

Alguém que se sentia deprimido, com pensamentos suicidas se, em um momento, passa a sentir melhor, significa normalmente que o problema já passou

FALSO: o comportamento mais tranquilo de alguém que pensava em suicídio não significa necessariamente que está livre do problema. A pessoa pode se sentir melhor ou mais aliviado justamente por ter tomado a decisão de se matar.

A pessoa está fora de perigo quando mostra sinais de melhora ou sobrevive a uma tentativa de suicídio

FALSO: a melhora após uma tentativa malsucedida ou mesmo quando a pessoa se recupera no hospital é uma das fases mais perigosas do suicida. A semana subsequente à alta do hospital é um período em que o indivíduo está bastante fragilizado. Como uma espécie de preditor do comportamento futuro é o comportamento passado, a pessoa que já tentou o suicídio uma vez, sem o tratamento adequado, segue em risco alto .

Não devemos falar sobre suicídio; isso aumenta o risco

FALSO: falar sobre suicídio não aumenta o risco, ao contrário: falar com alguém sobre o assunto pode aliviar a angústia e a tensão que os pensamentos de morte trazem. Para Jocilaine, “falar sobre o suicídio ajuda a pessoa a se sentir acolhida. É importante buscar ajuda profissional após esse momento”.

A mídia está ou deveria estar proibida de tratar do tema suicídio

FALSO: a mídia tem obrigação social de tratar do assunto, que é questão de saúde pública, e abordá-lo da forma adequada. Falar do tema não aumenta o risco de uma pessoa se matar; ao contrário, é fundamental passar informações à população sobre o problema, onde buscar ajuda, como prevenir etc. “Considerando o efeito contágio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os casos de suicídio sejam reportados com cuidado. Dentre os cuidados a serem tomados estão: a não divulgação do método empregado, não divulgação de fotos do morto ou de cartas de despedida, não glamourização da pessoa morta por suicídio, evitar coberturas sensacionalistas e repetitivas sobre o caso, explorar o caso sem julgamento moral. Além disso, sempre que uma reportagem sobre suicídio ou saúde mental for produzida, é importante incorporar informações sobre serviços de saúde mental e apoio emocional (como o CVV)”, afirma Jocilaine.

O Centro de Qualidade de Vida (CQV) da Clinipam trabalha com grupos de atendimento voltados para questões relativas à saúde mental e emocional do beneficiário. Em ações de acolhimento, como o grupo Pílulas de Ação Plena e o Minutos Psi, reúne psicólogos e beneficiários em atividades periódicas com objetivo de enfrentar dores e feridas mentais e emocionais com mais leveza, desenvolvendo um repertório comportamental que auxilie a enfrentar os desafios que a vida impõe. Durante a pandemia, as atividades continuam sendo realizadas de forma on-line.