Por que as pessoas traem?

Um dos maiores causadores de sofrimento psicológico nas relações humanas é a traição, mais precisamente a infidelidade conjugal. Desde que passamos a construir relações monogâmicas, passamos a presenciar também adultérios e isso cada vez mais vem crescendo. Isso ocorre em casamentos, namoros, noivados e até com “ficantes”, e isso levanta uma questão clássica, se for para trair, pra que se envolver?

Existem inúmeras respostas para essa pergunta, e se torna muito difícil julgar certo e errado nessa situação. O objetivo aqui é explicar alguns dos motivos e também conseqüências psicológicas desse ato.  Antes de falar dos motivos diretos que resultam numa traição, é importante ressaltar algo que ainda ocorre em nossa cultura e especialmente com as mulheres: é feio ser solteiro.

Esse pensamento é algo que está enraizado num país que ainda é sim, muito machista.  A visão de que a mulher tem que achar um marido logo se não “vai ficar pra titia” ocorre freqüentemente e é vista com deboche, e em algumas situações pode ser até uma vergonha para a família. Apesar de essa cultura ainda está mudando, são inúmeras vezes, que vemos mulheres forçando relações, às vezes uma atrás da outra, por entenderem que não vão ser felizes sem um marido. Essa situação, ajuda a explicar o por que de muita gente continuar em relacionamentos abusivos, o que nos trás ao primeiro motivo “direto” da traição: o medo de ficar sozinho.

O parágrafo acima retrata uma situação que ocorre muito mais com mulheres, por conta da cultura do nosso país, porém se trata de uma situação que ocorre também com homens. Já, o medo de ficar sozinho, se trata de algo que não tem restrições, e atinge um número espantoso de pessoas. Esse fato acaba fazendo com que muitas pessoas entrem em relacionamentos os quais não dão tanto valor assim, apenas pelo medo de ficar sozinho e isso resulta numa fragilidade do laço. Para colocar de forma melhor, quem tem medo de ficar sozinho, se agarra em cada oportunidade que ver, e muitas vezes estas oportunidades aparecem quando o individuo já esta numa relação. “Mas por que não termina então? Pelo medo de ficar sozinho”, se isso está certo ou errado, já é outra história.

Outra situação que acontece incessantemente se trata da traição por oportunidade. O individuo, novamente sem distinção de gênero, já não está feliz com seu relacionamento, a “magia” passou, o carinho, o elogio, as relações sexuais já não ocorrem com tanta freqüência e o comodismo se instala. Eis que numa determinada oportunidade, algo novo surge, com interesse, com vontade e com uma onda de ar fresco, a traição ocorre. E isso, traz muitas vezes a culpa, o remorso, a vergonha e o sentimento saber que ter feito algo errado, porém não há como voltar atrás.

Apesar de todos estes motivos serem algo que pesa muito na hora de trair ou não, essa é uma decisão de quem está com a oportunidade a frente, nunca de quem é traído. Falo isso pois, é muito comum tentar inverter a situação, dizendo que a culpa de um ter traído é do outro, que só fez isso por conta das atitudes do outro, sendo que é uma decisão individual e ninguém é forçado a fazer. É importante lembrar, que estes não são os únicos motivos, e que na maioria das vezes acaba sendo uma junção de diversos fatores.

Mas e como fica quem é traído? O maior choque é que a traição nunca é algo que se espera, sempre vem de alguém que se confia. Normalmente, é algo que é superado com o tempo, porém em muitos casos o impacto é tão forte que as pessoas acabam não se deixando mais se aproximar de alguém, ou acabam se tornando extremamente desconfiadas em todas as esferas de sua vida. O pior caso é quando se instala um relacionamento abusivo, no qual as traições são constantes, são sabidas e mesmo assim a pessoa não consegue se desligar do vínculo.

Infidelidade é algo que causa um transtorno psicológico enorme além de diversas outras conseqüências. Ninguém é obrigado a ficar com ninguém, não é feio ser solteiro, e é perfeitamente possível ser feliz sozinho. Um relacionamento é algo que precisa ser prazeroso para os dois e não algo para suprir necessidades emocionais, e mais do que isso namorar para dizer que está namorando, tende a acabar machucando a ambos. E para finalizar o texto, nenhum tipo de relacionamento abusivo é justificável, às vezes se pode ter complicações para se fazer um termino (casa, filhos…), mas passar uma vida inteira sofrendo nas mãos de alguém é muito mais complicado. Por isso eu reforço, se for para se envolver, que seja com alguém que lhe faça bem!

Miguel Luiz Gava de Borba – Psicólogo Clínico, CRP 12/16049