Poker faz melhor para a saúde mental do que você imagina

Aos 85 anos, o uruguaio Jaime Ateneloff  impressionou a todos na última etapa do Campeonato Brasileiro de Poker (a BSOP), realizado em Punta del Este pela primeira vez. Ateneloff nunca havia ganho um dos grandes torneios de poker profissional. Jogava há mais de dez anos, mas trunfar soberano na mesa final ainda era algo a se alcançar. No início de junho, conseguiu, sendo o mais velho campeão de uma etapa do circuito.

A história de Jaime até poderia ser considerada um ponto fora da curva, mas está longe de sê-lo. Doyle Brunson é outro exemplo notório: o americano tem 82 anos e joga poker profissional há mais de 50 – já tendo sido campeão de diversos torneios importantes. O que pode haver de comum entre ambos?

O esporte em si como poderoso exercício mental. O poker é um dos chamados “esportes mentais”, os quais exigem constantemente raciocínio e leitura do jogo do adversário. Muito mais do que mera sorte – a qual só domina o certame quando dois jogadores dão all in antes de qualquer carta na mesa – é necessário ter habilidade de calcular probabilidade e um constante manejo de  capital – tal qual um operador na bolsa de valores teria que possuir para ser bem sucedido. A questão por muitas vezes não é ganhar: mas quanto você ganha em cada mão. E é preciso constante raciocínio para ser bem sucedido nisso.

Com toda essa demanda mental, não espanta o resultado de pesquisa realizada em um estudo na  França pelo Dr. Jeffrey Cummings. Cummings chegou a uma conclusão interessante em 2009: jogar poker pode lhe ajudar a ter uma melhor saúde mental.

O espaço amostral foi relevante para que a conclusão de fato o seja, e corrobora com as atuações de Brunson e Ateneloff no jogo profissional. 5000 idosos participaram do estudo. Nele, aqueles participariam de diversas atividades com esportes mentais – incluindo o poker.

Após examinar os resultados, o Dr. Jeffrey chegou à conclusão de que o poker se mostrou o mais efetivo dos exercícios mentais para manter o cérebro mais saudável na terceira idade. “Nós temos uma idéia social do que consiste a aposentadoria e precisamos reexaminar esta idéia,” disse Cummings. “Uma pessoa que ainda é capaz de trabalhar, que é mentalmente estimulada, tem mais chances de continuar assim, do ponto de vista cognitivo”, concluiu. O Dr. John Powell, co-autor do estudo, foi mais direto: “use ou perca (sua mente)”.

De fato é cada vez mais notório o quão útil pode ser o exercício mental – e isso em todas as idades. Seja com o poker ou qualquer outro esporte mental, como outros jogos carteados que requeiram raciocínio constante por parte do jogador. E isso está sendo reconhecido por atletas de outros esportes como forma de se preparar melhor do ponto de vista mental.

Caso recente é o do atacante do Barcelona e da Seleção Brasileira, Neymar Jr. “Para ser um jogador de poker de sucesso, você precisa ter muitas das habilidades que um jogador de futebol top também precisa. Foco mental é importante, resiliência, paciência, compostura e foco. Eu amo desafios, não importa se acontecem em uma mesa de poker ou em um campo de futebol”, disse ao ser anunciado como um dos embaixadores do jogo através da PokerStars.

Embora boa parte dos jogadores profissionais da modalidade ainda sejam jovens abaixo de 35 anos, os casos como do uruguaio Jaime Ateneloff, do americano Doyle Brunson e a conclusão do estudo francês indicam mais ou menos o que a sabedoria popular diz: mente vazia, oficina do diabo. Manter-se ocupado com atividades mentalmente estimulantes pode ser o melhor caminho para uma terceira idade mais saudável – e parece ser indiscutível, até do ponto de vista científico, que o poker é um desses caminhos.

Vanessa Santano