Padre Gregório Michels celebra 50 anos de sacerdócio

Na noite deste domingo, 06, às 19 horas, a Igreja Santa Bárbara, no bairro Santa Bárbara, em Criciúma, acolhe a missa em ação de graças pelos 50 anos de sacerdócio do Padre Gregório Michels, 79 anos de idade. Desde 2010 o padre é auxiliar na Paróquia formada por dez comunidades. Tanto o sábado quanto o domingo serão dias de receber o carinho e as homenagens de paroquianos, parentes e amigos, pois no dia 05, às 09h30min, Michels também celebrará em sua terra natal, Rio Cachoeirinhas, Braço do Norte.

“Eu sou um padre muito feliz. Quando me ordenei, fiz o propósito de ir para frente, de qualquer maneira. Meu primeiro ano como padre foi difícil, mas então me lembrei: vou pra frente de qualquer jeito. Meu propósito me ajudou muito!”, recorda o presbítero que, quando de sua ordenação, não optou por um lema sacerdotal, comumente extraído de um texto bíblico, mas optou pelo propósito: “Deus, vós instituístes para glória de vossa Majestade e a salvação da humanidade vosso Filho Unigênito como Sumo e Eterno Sacerdote. Fazei com que aqueles que escolhestes como ministros e administradores dos vossos mistérios sejam fiéis no cumprimento deste serviço”.

Por vezes com a memória falha, em razão dos problemas que surgem com o avançar da idade, padre Gregório mostra-se ansioso e feliz por celebrar com a família e a comunidade o seu jubileu de ouro sacerdotal.

De uma brincadeira, a vocação

Quando as lembranças ressurgem em sua mente, fica emocionado e conta, alegre, sobre sua origem, os momentos que viveu e iniciativas que realizou. Filho de Benjamin Michels e Maria Müller, Gregório é o quinto de 12 irmãos e nasceu em 22 de novembro de 1936. Foi estimulado ao sacerdócio pelos pais, que montavam um “altarzinho” em casa. Mais foi aos 13 anos, após uma visita especial, que o sacerdote jubilar ingressou na vida seminarística. A família residia no interior, na comunidade dedicada a Nossa Senhora de Lourdes, em Rio Cachoeirinhas, Braço do Norte.

“Num certo domingo, o padre José Kunz e aquele que depois veio a ser arcebispo de Florianópolis, Dom Afonso Niehues, vieram com seminaristas do Seminário Menor de São Ludgero. Eles subiram o morro em fila dupla, cada um com um livro de cânticos na mão, cantando tão bonito! A missa também foi tão bonita, cantada por eles. Do almoço até o dia seguinte eles ficaram espalhados nas casas das famílias. Em nossas casa, ficaram quatro. E como lá havia muitas crianças, fizemos uma bagunça! Lembro que já era noite e meu pai queria dormir. Ele gritou: ‘Ruhig!’, que quer dizer “quieto”. Tivemos que ficar quietos e ir dormir”, recorda o padre, aos risos. “Depois daquela visita, gostei tanto daqueles seminaristas cantando e brincando conosco! Aí nasceu minha vocação”, completa.

Uma casa de oração

A casa da família Michels era uma casa de trabalho: os pais, agricultores, plantavam para o consumo próprio e criavam porcos para venda. Mas padre Gregório enfatiza que o lar da família de descendência alemã era também uma casa de intensa oração. “Rezávamos muito. Aos domingos, nem sempre tínhamos missa no interior. Quando sim, as crianças pequenas ficavam em casa. Muitas vezes, nossa mãe ia e levava todo mundo. Mas quando a mãe ficava em casa com neném, ela ficava sentada, cuidando do bebê e nós ficávamos de joelhos, ao redor, rezando o terço. Disso me lembro muitas vezes”, recorda.

Trajetória seminarística e sacerdotal

Em 1949, o pequeno Gregório ingressou no Seminário Menor em São Ludgero, onde ficou dois anos. Depois, em 1954, fez o ensino propedêutico em Azambuja, Brusque e, em 1956, entrou do seminário de Filosofia em Viamão (RS). “Estudei um ano em Viamão, pois lá fiquei doente. Eu tinha muita dor de cabeça e os médicos alegaram que era próprio da minha idade e que logo isso iria passar. Não deu outra: perdi a vista. Devido a uma inflamação no nervo óptico, desde meus 18 anos só enxergo com o olho direito”, relata.

Mais tarde, padre Gregório concluiu os estudos em Filosofia em Curitiba (PR). Depois, o bispo de Tubarão o mandou estudar na Alemanha, onde cursou Teologia e foi ordenado sacerdote, em 05 de março de 1966, na cidade de Paderborn, no estado de Nordrhein-Westfalen, pelo Cardeal Lorenz Jaeger. Do Brasil, apenas seu pai, Benjamin Michels, e o pároco José Kunz participaram da celebração. Na época, eram comuns ordenações coletivas. Padre Gregório foi ordenado com mais 23 diáconos, todos alemães. Prmaneceu ainda um ano na Alemanha, trabalhando na paróquia de Trier.

Em 1967 retornou ao Brasil, e assumiu como vigário paroquial na Catedral de Tubarão. De 1968 a 1974, serviu a Paróquia São José, em Criciúma, como vigário e depois como pároco. De 1975 a 1977, foi missionário do projeto Igrejas Irmãs e, Uauá, na Bahia. De 1978 a 1979, assumiu como pároco da Paróquia Santo Agostinho, em Rio Maina.

Mais foi em 1980 que Padre Gregório sentiu bater, novamente, em seu coração, o desejo de partir para uma terra missionária. E assim o fez. “Esse desejo surgiu pela ação de três colegas que tinha na Alemanha. Eles tinham uma equipe que preparava pacotes com roupas e remédios e enviava para as missões no Chile. Eu passei pela cidade onde havia os missionários alemães e por causa disso, senti de novo aquela vontade de ir para as missões”, explica o presbítero.

De 1980 a 1992, portanto, durante 13 anos, padre Gregório foi pároco da Paróquia Santa Ana do Santíssimo Sacramento, em Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, atendida pela Diocese de Rondonópolis. “Me recordo, especialmente, dos trabalhos no interior, onde havia só três capelas. Lá, geralmente rezava missa debaixo das árvores, de pés de manga, que ficam bem grandes e frondosos”, lembra.

O sacerdote conta que sempre recebia donativos da Alemanha e, uma vez, sem esperar, recebeu um cheque com uma alta quantia, de um de seus colegas de seminário. “Procurei pelo prefeito e lhe disse: ‘Recebi esse dinheiro todo e pensei em dar aos pobres, porque quem mandou disse que é para os pobres’. Foi aí que acertei. Se desse o dinheiro, eles desperdiçariam em outras coisas. O prefeito então, cedeu um terreno baldio, bem pertinho da cidade, e fizemos uma horta comunitária. Convidei o povo para uma reunião e veio bastante gente”. Padre Gregório providenciou ainda a compra de um caminhão, que servia as necessidades para manutenção da horta, que era grande: tinha 2,1 hectares. Assim se compôs um grupo com cerca de 25 pessoas associadas, que plantavam e vendiam os frutos de seu cultivo.

De Mato Grosso, ficaram as boas lembranças da missão. Em 1993, voltou para Santa Catarina, ao ser nomeado vigário de Imbituba. De 1994 a 2001, atuou como vigário, de volta à Paróquia São José. De 2002 a 2009, serviu o Hospital São José, em Criciúma, como capelão.

Desde 2010, padre Gregório reside na Casa São João Maria Vianney, no bairro Michel, dedicada aos padres idosos ou enfermos. Há cerca de cinco anos auxilia a Paróquia Santa Bárbara. “Aqui, estou tão bem. Mas não dou mais conta de rezar a missa sozinho. Falta-me a memória e daí me perco. Permanecer em pé também não está fácil. Então, todo domingo me levam até a igreja, ou padre Wilson vem me buscar. Sento perto do altar e ali concelebro. Padre Wilson me diz que o povo acha isso muito bom, que ‘o padre não os esquece’. Me sinto muito feliz por isso”, pontua.

Bibiana Pignatel

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