O Brasil pode se tornar o maior mercado de apostas do mundo?

Ninguém do mercado, seja qual for o nicho, pode se dar ao luxo de subestimar o impacto e a importância da internet nas últimas três décadas. Isso também se aplica ao mundo de apostas esportivas, cassinos e outros jogos.

Falando o português claro: o Brasil, durante muitos anos, foi apenas a “Terra do Jogo do Bicho” no que diz respeito a apostas, levando em conta que apenas a loteria esportiva da Caixa, devidamente controlada pelo governo, é considerada uma forma de jogo legal no país.

Como então, levando isso em conta, o Brasil teria potencial de se tornar o maior mercado de apostas do mundo? Se os cassinos e bingos foram proibidos por aqui há tantos anos, como pode ser que o país seja visto por tantos investidores como a futura locomotiva das apostas esportivas e jogos de azar online?

A resposta, claro, e uma só: devido à internet. Mas de onde vem todo esse potencial para que o mercado online de cassinos no Brasil se torne um titã mundial?

Regulamentação engessada

Pouca gente se lembra – e quem se lembra é porque estudou e não porque viu – que o Brasil já foi consierado um paraíso para os amantes de cassinos no século XX, não deixando nada a desejar para os paraísos de jogos europeus e norte-americanos da época – e muito além ainda com relação aos hoje pioneiros mercados da Ásia, diga-se de passagem.

Lugares como Ribeirão Preto, São Paulo e, principalmente, o Rio de Janeiro, onde o bairro da Urca era um dos símbolos máximos do nicho, cassinos prosperavam e eram sinônimos de glamour até meados da década de 1940. Não muito diferente do que se vê em Las Vegas e Monte Carlo, eles eram frequentados por políticos, atletas e celebridades das mais diversas.

A festa chegou ao fim com um decreto do então presidente Eurico Gaspar Dutra, que tornou ilegal todos os estabelecimentos de cassinos. Passaram-se muitas décadas e os bingos, porém, seguiam intactos, até que o então recém-eleito presidente Lula, em 2003, determinou o fechamento desses negócios também, em uma de suas primeiras medidas como chefe máximo do poder executivo.

Como funciona hoje

De lá para cá, o que se viu foi um mercado desaquecido e praticamente esquecido; a única forma de aposta legalizada passou a ser as loterias oficiais do governo, ou seja, a Mega-Sena, Lotomania e outras. Contudo, até mesmo essas podem ter seu modelo de funcionamento modificado muito em breve, com a ideia de repassá-las para o setor privado ganhando força.

O que acontece é que em meados dos anos 1990 a coisa começou a mudar de figura, com a então novidade da possibilidade de se fazer as coisas online, com o advento da internet.

O ponto é que a legislação brasileira não permite cassinos ou casas de apostas em território nacional, mas não há nenhuma especificação sobre órgãos sediados no estrangeiro que ofereçam seus serviços aqui – afinal, isso seria impossível sem a internet, e as leis que determinam isso são simplesmente de um tempo em que não existia o conceito de “online”.

Por conta disso, nos últimos anos, o Brasil se viu invadido por casas de apostas e cassinos online dos mais diversos países, que atuam de maneira legal. A questão, na verdade, não é estar em pleno acordo com a legislação, mas sim atuar numa área cinzenta e que ainda está nebulosa tanto para a população quanto para os políticos e legisladores.

Impacto na economia

Se, de fato, o Brasil seguir a tendência de economia mais liberal que vem demonstrando e der andamento a projetos de lei que visem a liberação de jogos e apostas tanto físicas quanto virtuais, pode ser que o já aquecido mercado veja um verdadeiro boom de interesse e consumo.

O que fica fácil de perceber, de forma clara, é o potencial de arrecadação que a eventual legalização dos jogos teria. Tanto no sentido mais simples e direto, ou seja, através do recolhimento de impostos, quanto na sua expansão em questão de marcas e patrocínios; um fenômeno que já pode ser visto em eventos esportivos de grande porte, mas que mal começou a arranhar a superfície de suas possibilidades no Brasil. No caso de estabelecimentos físicos, isso ainda estimularia o turismo local, sem contar no incentivo que seria gerado também para a indústria da cultura.

A mudança de geração também tem papel importante nesse impacto cultural e econômico que promete colocar o Brasil no topo quando o assunto é de apostas online. Mesmo ainda atuando numa certa brecha legislativa, a paixão do brasileiro por futebol se reflete no crescimento do mercado de apostas online, isso porque cada vez mais gente está online.

Esse fenômeno, claro, é explicado pela simples tendência mundial de mais acesso à tecnologia, cada vez mais cedo. Com a Geração Baby Boomer se aposentando e a Geração X na metade final de sua carreira, os mais jovens Millenials e a Geração Z, que já nasceram imersos na era da internet, tendem a estar cada vez mais conectados e exigir cada vez mais dos mercados online.