Nossa história: Um pouco da Letônia em Nova Veneza

Tadeu Spilere

Descendentes ressaltam o papel dos imigrantes letos na “construção” do município

Em Nova Veneza, quando se fala em imigração, logo se remete a italianos e alemães. Sem dúvida, essas etnias tiveram papel fundamental na formação do município, e isso fica evidente nas manifestações da sociedade. Porém, o processo de construção histórico contou com mãos de outros “povos”, que também têm importante participação.

As famílias Kauling e Frischenbruder, por exemplo, guardam as lembranças dos familiares que vieram da Letônia, ex-integrante da União Soviética. Na casa de dona Claudia Kauling, próxima à divisa com Mãe Luzia, irmãos, filhos, sobrinhos e netos se reúnem em torno da familiaridade e do sentido de pertencimento, de identidade.

Fotografias antigas mostram o casal Johann e Carolina Kauling, que vieram com três filhos do país europeu. No Sul se estabeleceram e tiveram mais oito filhos. Os netos contam que em terras brasileiras os imigrantes precisaram se adaptar para sobreviver. “Viviam basicamente das plantações e criação de animais, assim como os imigrantes de outras etnias”, conta Claudia. Porém, como vieram de um país onde o frio é predominante, a adaptação trouxe dificuldades. “Muitas famílias foram para a serra, já que lá é mais frio”, completa.

De acordo com os descendentes, a crença religiosa também foi uma barreira por muito tempo. Os letos são majoritariamente luteranos, e aqui mantiveram esta tradição. Na primeira metade do século XX, diante de uma sociedade de maioria católica, as relações foram conturbadas. Não foi fácil, por exemplo, a busca por emprego.

As lembranças dos ascendentes são motivo de orgulho para aqueles que guardam a tradição. Nilza, filha de Claudia, conta com carinho a relação com os avós. “Eles são um orgulho para nós. Sempre foram exemplo de honestidade, de pessoas trabalhadoras”, afirma.

A identidade se mantém preservada

Mesmo que antigos costumes tenham ficado para trás, os descendentes resguardam sua história

A língua original foi preservada por muitos anos e era utilizada nas relações familiares e de amizade. Assim como para os italianos e alemães, ela foi se perdendo para as novas gerações. Os mais antigos ainda guardam algumas palavras. “Às vezes falo alguma coisa e meus filhos não entendem. Antigamente, em casa, falávamos bastante. Nossos pais e avós, inclusive, rezavam na língua de origem”, conta dona Ema, irmã de Claudia.

Mesmo que os tempos sejam outros, a família busca preservar a história. “Sempre procuro explicar as coisas para o meu filho. Acho importante que ele saiba a nossa origem”, ressalta Nilza. “Também mostro algumas coisas pela internet para a minha filha”, complementa a prima Elizabete.

Como em Nova Veneza os descendentes de letos foram apelidados de “russos”, a localidade de Vila Florença conta com o cemitério conhecido como “cemitério russo”. Ali estão diversos imigrantes e descendentes desta etnia.

A história daqueles que vieram da Letônia deixa claro que Nova Veneza é bem mais diversa do que o senso comum prega. Claro que há uma grande carência de pesquisa historiográfica acerca deste assunto, mas não há dúvidas que na “construção” deste município há mais mãos do que muitos acreditam.

Saiba mais sobre a Letônia

Localizado no continente europeu, o território da Letônia faz fronteiras com a Estônia (ao Norte), Rússia (a Leste), Bielorússia (a Sudeste), Lituânia (ao Sul), além de ser banhado pelo mar Báltico (a Oeste e ao Sul). Juntamente com a Lituânia e Estônia, a Letônia é uma das Repúblicas Bálticas. Ex-integrante da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a Letônia conquistou sua independência em 1991.

Além do forte turismo ecológico, outro destino na Letônia é Riga, capital nacional, com edifícios medievais e prédios de art nouveau, declarados patrimônio da humanidade.

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5 Comentários

  1. gostaria de saber mais sobre Johann Kauling, escrevo sobre a família e desconheço estes nome de Johann casado com Carolina (zap) 48-999803966

  2. Boa tarde, minha família Kauling foi para Bocaina do Sul, serra catarinense quando chegou ao Brasil. Estou fazendo pesquisas sobre a família, vendo o caminho que percorreram saindo da Europa e chegando ao Brasil, eles vieram em 1862, será que podem me ajudar?
    Desde já, grata pelas informações colhidas aqui.

  3. Minha falecida vó Maria dos prazeres Kauling dos Santos sempre contou história sobre fugir com os pais para Lages, falava alemão e italiano. Veio para Florianópolis depois de casada. Com sua idade nos lembrava mais se ainda tinha familiares que estivessem vivos e a história terminou com ela.