Memória viva: O neoveneziano que fez história com o Metropol

Flazio Campo viveu até os 15 anos em Nova Veneza e depois partiu para fazer da história de uma das equipes mais importantes do futebol catarinense

Tadeu Spilere | Jornal Nossa Gente

No final da década de 1940, Flazio Campo era mais um adolescente de Nova Veneza apaixonado pelo futebol. Mesmo mais novo que os companheiros e com os pés no chão, não deixava de participar dos jogos no Metropolitano Clube. A mãe solteira, dona Joana Campo, trabalhava nos empreendimentos da família Búrigo para sustentar os cinco filhos.

Quando completou 15 anos, o garoto decidiu ir para Criciúma trabalhar e também jogar futebol. Se tornou funcionário da Carbonífera Metropolitana e pouco depois passou a compor o time aspirante do Metropol, que durante a década de 1950 disputou os campeonatos regionais.

Com 17 anos, em 1958, Flazio entrou pela primeira vez na equipe principal como zagueiro e iniciou uma história de muitas conquistas. “Um dia fomos jogar contra o Itaúna de Siderópolis e o titular Pedro Satiro deu uma entrada no adversário e pegou uma suspensão de um ano. Naquela partida eu entrei, peguei a vaga e não larguei mais”, lembra.

Estratégia que deu resultado

No final dos anos 1950, as greves passaram a dominar as minas em Criciúma e os trabalhadores exaltavam a insatisfação. O futebol passou a ser utilizado pelos dirigentes como uma estratégia para manter o controle sobre os trabalhadores. No caso do Metropol, o investimento neste esporte levou a equipe muito além.

O empresário Dite Freitas deixou o Atlético Operário e assumiu o Metropol, fazendo com que, em 1959, a equipe ganhasse mais investimentos, uma nova cara, e as greves fossem extintas. A partir de então, o clube do Sul passou a escrever sua história no futebol de Santa Catarina e do Brasil.

“Todos gostavam muito do time. Inclusive os operários ajudavam, um valor era descontado da folha de pagamento. Vieram jogadores de fora, como Chagas (Cruzeiro), Nilso (Botafogo) e Luiz Carlos (Coritiba). Além disso, tinha muita torcida. Onde o Metropol ia jogar, era casa cheia”, conta o ex-jogador, ressaltando que no início da década de 1960, os atletas, que também trabalhavam na mina, passaram a se dedicar exclusivamente à modalidade.

Anos de glória

Não demorou para resultados expressivos aparecerem. Na região, ninguém mais vencia o Metropol. No Campeonato Catarinense, foram três títulos consecutivos vencendo o Marcílio Dias na final: 1960, 1961 e 1962. O mesmo adversário foi batido na decisão de 1967, e em 1969 a conquista foi sobre o América de Joinville.

Em âmbito nacional, o grupo também deixou sua marca. Enfrentou de igual para igual grandes clubes do cenário brasileiro. “Para mim, um jogo memorável foi contra o Grêmio, na Taça Brasil (Campeonato Brasileiro da época). Ganhamos de 3 a 2 lá dentro do Olímpico, e tínhamos perdido de 6 a 1 em casa. Naquela partida marquei o atacante mais rápido que vi na minha vida, o Paulo Lumumba”, relembra.

Excursão à Europa

Após a conquista do Estadual de 1962, o Metropol fez algo inédito para o futebol catarinense: uma excursão pela Europa que durou 94 dias. O elenco passou por cinco países, enfrentou times reconhecidos mundialmente e conseguiu bons resultados.

“Como prêmio pela conquista do título, o dirigente perguntou se a gente queria dinheiro ou a excursão. E a gente escolheu a viagem. Foi algo inédito na época, pois os times grandes até iam, mas jogavam e voltavam. Nós ficamos 94 dias”, declara o ex-defensor.

O Pelé não veio

O veneziano se orgulha de ter enfrentado e também jogado ao lado de atletas que fizeram história. Muitos vieram mostrar seu futebol no campo criciumense, mas o maior de todos os tempos acabou não vindo por pouco. O Santos veio participar de uma partida comemorativa, mas Pelé, lesionado, desfalcou o grupo paulista.

“Foi a coisa mais triste. Teve até gente chorando porque ele não veio. Chegaram ônibus de torcedores para ver o Pelé, mas na hora foi uma grande decepção. Acho que ele deveria ter vindo, mesmo se não jogasse. Ainda perdemos aquele jogo por 3 a 1”, comenta.

“É difícil surgir outro time como aquele”

Flazio Campo lembra com muito orgulho do time que faz parte de sua história

Hoje com 76 anos, Flazio mora em Criciúma, nas proximidades do campo do Metropol e guarda em casa lembranças como fotografias, camisa, faixas e documentos dos tempos de futebol. Já que poucos daquela época ainda vivem, ele é valiosa fonte de pesquisa para estudantes e jornalistas, e tem muito orgulho de contar sua história.

Ainda mantém contato com amigos de Nova Veneza que torciam para o clube criciumense e que o chamam de Flazão. Torcedores que viam um futebol reverenciado até hoje pelos amantes deste esporte.

“É difícil surgir outro time como aquele. Era um time que entrava em campo e mostrava um futebol bonito, que jogava por música, que saia perdendo e depois fazia quatro, cinco”, ressalta.

Flazio ficou no Metropol até 1965 e depois foi para o futebol de Brusque, onde ficou quatro anos e também teve uma passagem vitoriosa. “Sou muito feliz, pois por onde passei deixei meu nome marcado. Tenho fotos em casa e mostro para os meus netos: ‘esse é o avô’”, fala com orgulho.

“A maior história da minha vida”

O senhor, que esbanja humildade e simpatia, não esconde a emoção ao falar da importância do Metropol. “Foi a maior história da minha vida. Já pensou um cara de Nova Veneza, que subia a pé o morro do São Martinho, excursionar pela Europa e conseguir tantas conquistas. Eu tenho que ficar muito feliz e orgulhoso”, conclui.

Memória viva: O neoveneziano que fez história com o Metropol