Margarete Ugioni – Desabafo

Fiquei procurando uma palavra para dizer, mas não conseguia falar, não saia nada da minha boca. Porque é tão difícil dizer alguma coisa para quebrar o silêncio que paira entre a gente? Como as coisas chegaram a esse ponto? Você viveu anos ao lado de uma pessoa, compartilhou uma vida inteira, foram parceiros de projetos e cúmplices em atos e ações e, de repente – às vezes não tão de repente – se tornaram dois estranhos vivendo sob o mesmo teto.

Quem está de fora não consegue perceber a solidão de se apossou entre nós, nem os filhos percebem o distanciamento que se abateu entre a gente. Cada um para seu lado, cada um na sua televisão, no seu mundo de sonhos e ilusões – será que ainda tem sonhos?

A gente finge que vive, porque sobreviver apenas, sentir apatia diante dos fatos, não vibrar nem xingar diante das contrariedades pra mim não é viver, é apenas ser telespectador de uma novela que não se faz mais parte, a novela acabou e a gente esqueceu de ver o capítulo final.

O que você me diz? O que posso fazer diante de uma situação que parece irreversível? De quem é a culpa? Existem culpados?

Pensei que fosse apenas uma fase e que, de uma hora para outra, tudo se resolveria, que o clima entre a gente voltaria a ser como antes.

A gente pensa que a briga entre o casal é coisa ruim, mas nem sempre. A briga é uma forma de dizer que “não estou contente”, que não estou feliz. Enquanto se briga, se discute, há possibilidade de aparar as arestas, de colocar um ponto de equilíbrio na relação.

Mas quando não se tem mais o que dizer, não se encontra as palavras certas para dizer na hora certa o que se faz? Deixar a vida correr como um barco à deriva, sem saber em que porto irá atracar? E se a correnteza levar? E se afundar? Não quero nem pensar nessa possibilidade. Preciso urgente de ajuda.

Desabafo de uma amiga secreta. Fiquei sem ação, não soube o que responder.

Você saberia?

Mª Margarete Olimpio Ugioni