Margarete Ugioni: Apenas um prato de comida

26/05/2014 18:53

O interfone tocou, já era quase meio dia e tínhamos acabado de almoçar.

Não gosto de atender pelo interfone, pois não dou informações sem saber quem está lá fora. Fui direto olhar quem estava me chamando. Era um rapaz que aparentava ter uns 20 anos. Não tinha aparência de morador de rua, pois suas roupas eram de um rapaz normal para sua idade.

Questionei o que ele queria, ele respondeu que estava com fome e me pediu um prato de comida. Felizmente tinha sobrado um pouco do almoço – sabem como é, ainda não perdemos o costume de quem mora na roça, sempre fazendo mais comida do que tem pessoas para comer – e assim pude preparar um prato para ele.

Não é a primeira vez que algum pedinte toca na minha porta para pedir algum tipo de ajuda. O curioso é que não são pessoas moradoras de rua, geralmente são pessoas desgarradas de suas famílias por motivos que não podemos julgar.

Estamos constantemente sendo instruídos a não atender pedintes, pois os riscos são muitos. Pessoas mal intencionadas podem se valerem da condição de menos favorecidos para cometer furtos, assaltos e podem até matar. Pode parecer exagero, mas os meios de comunicação, todos os dias, estão nos mostrando notícias de assaltos a residências feitos por pessoas que batem à sua porta.

Servimos o prato, coloquei um copo de suco e desci para entregar ao rapaz. Antes de abrir o portão me certifiquei de que ele estava sozinho, abri o portão e entreguei o prato de comida. Me deu um aperto muito grande no peito porque não podia convidá-lo para sentar à minha mesa, pedi desculpas por causa disso e ele entendeu. Disse-lhe que pelo erro de alguns muitos pagam, que eu gostaria muito de poder levá-lo para dentro de casa e oferecer a minha mesa para ele fazer sua refeição decentemente.

Prontamente ele pegou o prato e sentou-se na calçada. Meu Deus, que vergonha eu senti pela minha covardia, pelo meu medo! Olhei ao redor para ver se ninguém estava assistindo a cena, não por ele, mas por mim.

Anos atrás tanto meus pais como meus sogros acolheram muitas pessoas em suas casas, deram comida e abrigo a muitos pedintes, felizmente nunca aconteceu nada de grave. Mas, nos dias de hoje dá pra gente fazer isso?

Eu penso que a maioria vai responder que não. A violência dos nossos dias nos tornam insensíveis, mais cautelosos e desconfiados, mas o que fazer numa situação dessas?

Arriscar seria insensatez. Para o rapaz, pedi desculpas. Agora só me resta pedir perdão a Deus.

Maria Margarete Olimpio Ugioni