Marcos Alexandre Margotti Izé: Primeiro capítulo de uma história inacabada

Sem título

O vento, que bate forte contra a janela, produzindo um som assustador, a ponto de gelar o corpo, fazia com que Jorge se contorcesse em sua cama. Perdido em seus pensamentos, buscava distrair-se com qualquer outra coisa, para que o sopro que batia forte contra a janela não lhe deixa-se ainda mais angustiado.

Trancado em seu quarto, olhava para o teto escuro, na busca de relembrar o tempo de criança. As imagens percorriam a mente, demonstrando momentos maravilhosos do passado. Lembranças de como sua mãe sorria ao vê-lo correr e brincar pelo pasto, do velho sitio de seu avô, onde o menino passou boa parte de sua infância. Jorge passou quase toda a noite relembrando de sua infância como meio de escapar do medo que o atormentava por conta da tempestade.

As sete da manhã, quando o relógio despertou, Jorge não demorou a saltar da cama, como num impulso do instinto, e apressou-se em se arrumar e sair para trabalhar. Já na rua, de longe via o prédio onde trabalhava que não ficava a mais de cem metros do prédio onde morava, numa rua estreita da periferia da cidade.

Todos os dias, fazia o mesmo trajeto. Saia de seu apartamento levando sua mochila e alguns papeis embaixo do braço, e logo após passava na padaria que ficava ao lado do apartamento, onde tomava rapidamente um café e logo saia levando um jornal que o proprietário deixava ali para ele. Às vezes seu Antonio, dono da padaria intrigava-se com aquela figura peculiar, que todos os dias a doze anos fazia aquele mesmo trajeto de sair do apartamento, passar na padaria, tomar um café e pegar o jornal, para logo depois sair para seu trabalho sem pronunciar palavra alguma. Ninguém ali sabia ao menos o nome completo daquele estranho homem, afinal ele nunca foi visto, senão ao sair e voltar do trabalho. Alguns desconfiavam que Jorge era um homem de grande porte financeiro, afinal, trabalhava no jornal da cidade, e sempre que vinha pagar sua conta na padaria no final do mês, estava sempre com uma quantia considerável em mãos.

A padaria de seu Antônio, que era simples com apenas um balcão principal onde ficavam algumas guloseimas e uns litros de cachaça, com três ou quatro bancos para que os clientes pudessem se sentar, e mais ao lado duas geladeiras velhas com refrigerantes e cervejas, e algumas poucas mesas, onde algumas pessoas jogavam baralho era apertada para mais de vinte clientes. Porem Jorge não se importava, passando de um a um até chegar ao balcão e conseguir se sentar em um dos bancos mesmo que fosse por breves dois minutos.

O caminho era curto até seu trabalho. Naquela manhã de segunda feira ainda ventava forte, e as marcas da tempestade da noite anterior permaneciam na calçada, disputando o espaço com o resto da sujeira. O cachecol que envolvia o seu pescoço e o protegia do frio do mês de junho era levado de um lado para outro por conta do vento. Alguns perdidos da noite dormiam na única parada que tinha naquela rua, fazendo com que os demais, aguardassem o ônibus sobre o tempo. O céu, que estava ainda escuro perturbava Jorge, fazendo pensar se teria que passar mais uma noite acordado por medo de outra tempestade.

Desde muito jovem, por volta dos seus dez anos Jorge tinha medo de ventos fortes e tempestades. Um medo que nunca conseguiu explicar, ou encontrar motivo aparente. Lembrava apenas das noites em que era obrigado a dormir escondido embaixo da cama, pois Miguel, seu pai não gostava que ele dormisse junto deles a cama do casal. A velha casa de madeira do sitio onde o casal morava rangia frequentemente por ação do vento, fazendo o medo de Jorge apenas aumentar. Por várias noites o menino dormia agarrado em seu único amigo, um velho urso de pelúcia que ele havia ganhado de presente de sua falecida avo materna.

A mãe de Jorge não gostava de tal situação e até ficava um pouco preocupada, pois frequentemente flagrava Jorge conversando com o urso, como se aquele pequeno bichinho de pelúcia fosse uma pessoa. O garoto tinha poucos amigos, afinal a fazenda ficava longe da cidade, e as poucas vezes que visitavam a cidade era para vender o que era cultivado na fazenda. Os poucos amigos que tinha, eram os da escola, que não somavam mais de 5 crianças, que eram filhos de donos das fazendas vizinhas. Porem Jorge tinha um carinho especial por Fernanda, uma menina da fazenda vizinha, que era sua melhor amiga e confidente.


Parado a porta do jornal, que era de um cinza sombrio e aparentava necessitar uma reforma, Jorge esperava o porteiro vir abri-la para que ele pudesse subir e dar início ao seu trabalho. Todos os dias Jorge passava pelo porteiro sem esforçar-se para cumprimenta-lo, o que era rotineiro. Jorge no jornal era conhecido como o homem sombra, pois era capaz de trabalhar a semana toda falando apenas o necessário para o desenvolvimento de seu trabalho. Porem as matérias realizadas por ele encantava a todos. Jorge iniciou seu trabalho no jornal como faxineiro, cargo que ocupou durante nove anos. Após uma consequência do destino, teve alguns de seus escritos que eram construídos no horário de almoço encontrado na lixeira pelo chefe do jornal sendo assim promovido como colunista. A mais de três anos, vem superando-se dia a dia, fazendo com que cada vez mais leitores aderissem ao jornal. A forma de sua escrita, que era um verdadeiro brincar com as palavras, deixando suas histórias com uma mistura de suspense, emoção, raiva e violência cativava até os leitores mais críticos. Sua coluna era um verdadeiro atrativo que fazia a venda do jornal disparar a cada dia.

Cada matéria escrita, cada publicação e a cada sucesso de venda do jornal, faziam Jorge delirar e inspirar-se cada vez mais, cultivando diariamente sua imaginação para novas histórias. Alguns ali diziam, que ele vivia tanto tempo perdido em seus pensamentos, que acabou por migrar para um mundo paralelo, onde ele tinha liberdade de viver suas próprias histórias. Muitos atribuíam seu talento a este mundo paralelo que muitos julgavam que ele vivia.

Muitas vezes Jorge foi questionado porque não juntar todas suas histórias e lançar seu primeiro livro, mas o mesmo detinha-se a não responder, como muitas vezes fazia. Já passavam das 4 horas da tarde e era hora de voltar para casa.

 

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