História e saúde: A odontologia em outros tempos

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Sem os recursos disponíveis hoje, o desenvolvimento do trabalho era um tanto diferente, mas o objetivo de oferecer saúde à população era o mesmo

Assim como outras profissões, o trabalho de dentista mudou consideravelmente com o advento das novas tecnologias e também com a aquisição de novos recursos. Porém, em outros tempos, pessoas se dedicavam à atividade com o que tinham à disposição e ofereciam serviço de qualidade à população. Em Nova Veneza não era diferente.

Até 1957, Olivério Nuernberg foi um dos poucos dentistas do município. Ele e o irmão deram início a uma tradição familiar de dedicação à odontologia. Formado no Instituto Politécnico de Santa Catarina, em 1932, na época o único curso superior do estado, o profissional passou a atender os venezianos e a agregar o que havia de inovação e qualidade naquele tempo.

O filho Gilberto Nuernberg começou a trabalhar com o pai, seguiu os passos, se formou na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e por muitos anos também trabalhou em Nova Veneza. Ele ressalta que antigamente era preciso lidar com recursos impensados hoje em dia.

“O próprio dentista gerava a energia necessária com um pedal que ficava embaixo da cadeira. Enquanto trabalhava, fazia o movimento com o pé. Isso porque, naquela época, havia energia apenas em determinado horário do dia, quando anoitecia. Por isso muitos profissionais trabalhavam à noite”, explica.

Entretanto, outra adversidade era considerada mais significativa para Gilberto. “Para mim, a maior dificuldade era a compra de materiais. Eu ia até Porto Alegre para buscar anestesia boa e agulhas de qualidade”, comenta.

Na falta da anestesia, a “dor incrível”

Em determinada época, a anestesia não era utilizada, e mesmo depois que passou a ser mais acessível, havia momentos em que ela não estava à disposição e os pacientes precisavam lidar com a dor. “Muitos davam um gole de cachaça e faziam a extração do dente. Muitas vezes era feita até por barbeiros que tinham o alicate.
E neste procedimento, quando o dente está bem firmado, como é uma área muito sensível, a dor é incrível”, afirma o veneziano.

Ele lembra um caso em que teve que enfrentar uma situação bastante complicada. “Havia um dentista no Caravaggio que saía no fim de semana e deixava a chave do consultório comigo, para algum caso de emergência. Então, num domingo de manhã, apareceu o senhor Carlos Guidarini com duas netas. Todos estavam com dor de dente. No consultório não havia anestesia e tinha que extrair. Nele, tirei dois dentes. Em uma das meninas extraí um. A outra não teve nem coragem de sentar na cadeira”, conta.

Além da prática, a formação

Gilberto precisou enfrentar as dificuldades para conseguir terminar o curso superior

Quando tinha 23 anos, Gilberto começou a trabalhar com o pai, como auxiliar, e assim adquiriu experiência prática. Após mais de 10 anos, quando os profissionais sem formação passaram a perder espaço, ele decidiu buscar a faculdade. Então enfrentou cursinho preparatória e aos 37 anos entrou para o curso de odontologia da UFSC.

Apesar da satisfação dos estudos, muitas dificuldades foram enfrentadas, pois o veneziano precisa ir a Florianópolis mesmo com a mulher e sete filhos em casa. “Realmente acho que eu fui um herói. A minha família me ajudava nas despesas, mas eu vinha na sexta-feira e atendia nos fins de semana para conseguir recurso. Mesmo assim, tive que trancar a faculdade por um ano devido a falta de dinheiro”, conta.

Quando ao aprendizado agregado na universidade, ele só tem a exaltar. “Foi uma passagem muito boa. Como eu já tinha muita prática, os professores gostavam de mim. Apesar disso, tive algumas reprovações, pois a cabeça estava sempre aqui, com a mulher e os filhos”, lembra. Gilberto conseguiu se formar em 1979 e voltou a atuar efetivamente em Nova Veneza.

Tradição preservada

O exemplo de Olivério e Gilberto serviu para que a tradição da odontologia na família fosse preservada. Muitos familiares seguiram a mesma direção. “Têm irmão, primos, filhos, netos. Até já perdi a conta”, afirma.

Gilberto reconhece que muita coisa mudou na atividade de dentista. Porém, ressalta que independente dos recursos à disposição, o que não pode faltar em qualquer lugar ou época é a dedicação à causa.

Tadeu Spilere

Gilberto Nuenrberg (2)

2 Comentários

  1. Considero-me privilegiado. Tenho a voz do Seo Olivério gravada em "disco compacto" e, agora, em CD. Foi em 30.6.1957, em Criciúma! Há passagens marcantes que devem ser recordadas dessa família Nuernberg. Para exemplificar: Nosso amigo Vitório De Mattia, casado com nossa prima Regina Cúnico Trombin, confiou ao Dr. Gilberto que cuidasse da sua família, quando ele falecesse. E as "tiradas" sempre inteligentes do Prof. Nivaldo, temperadas com o dialeto Vêneto?