História de perto: O grande Brasília da guarda presidencial

logo-nossa-gente-p

 

O neoveneziano fez a segurança de Juscelino, Jânio Quadros e João Goulart durante um período importante da história do país

O início da década de 1960 foi bastante conturbado para a política brasileira, e o desenrolar dos acontecimentos ficaram marcados na história do país. Em um espaço de poucos meses, o Brasil contou com três presidentes: Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart. Neste contexto, a nação foi se encaminhando para o golpe militar de 64.

Este período histórico contado nos livros ganha ainda mais destaque quando é relatado por alguma testemunha ocular, alguém que esteve bem próximo do centro político do país naquela época.

Em Nova Veneza, poucos o conhecem pelo nome Luiz Manfredo Fabres, mas pelo apelido Brasília ele é bastante popular. Inclusive, os filhos herdaram o mesmo apelido, assim como a localidade onde reside. Ele foi para a capital do Brasil no início de 1961, onde permaneceu até começo de 1962 exercendo a função de guarda presidencial. Enquanto a nação vivia tempos decisivos, o neoveneziano estava postado em frente à porta da sala dos gestores.

“Quando eu completei 18 anos houve uma seleção. Quem tinha altura e peso ideal e nenhum problema de saúde ia para Brasília. Os outros iam para Curitiba, Rio de Janeiro, Florianópolis e outros lugares. Então quando eu fui chamado, como eu era o único filho homem e cuidava da minha mãezinha, eu perguntei para o tenente: ‘eu preciso servir mesmo?’. Ele respondeu: ‘não tem jeito, você vai ter que servir. Mas vou te dar uma chance: Florianópolis, Curitiba, Rio, Belo Horizonte ou Brasília?’. Então eu olhei para o rosto dele e perguntei novamente: ‘mas eu sou obrigado a servir mesmo?’, e ele: ‘sim’. Daí eu respondi que queria ir para a capital”, conta.

Após três meses de preparação, o veneziano foi escolhido para fazer a guarda do presidente. Segundo ele, pelo bom desempenho nos treinamentos, principalmente na prática da pontaria. “Quando cheguei era o final do mandato de Juscelino Kubitschek. Mas Jânio Quadros já havia sido eleito e logo assumiu. Ficou alguns meses e depois entrou o João Goulart”, lembra.

Diante da renúncia de Jânio

Brasília lembra os dias angustiantes que antecederam a saída do presidente

Jânio Quadros herdou um cenário bastante conturbado, com problemas resultantes da chamada política desenvolvimentista. A inflação atingia 25% ao ano e a dívida externa era exorbitante. Ele ganhou o apoio popular com o slogan “varre, varre, vassourinha, varre a bandalheira”, prometendo acabar com a corrupção e equilibrar as contas públicas.

Porém, o país mergulhava em uma crise política que culminaria no golpe de 64. O guarda Manfredo, como era chamado na época, mantinha a postura que a função exigia e acompanhava os acontecimentos diariamente. A pressão sobre Jânio crescia, a tensão era grande, e os oficiais precisaram redobrar a atenção.

“Nós chegamos a dormir 40 dias ao redor do aeroporto de Brasília, sem trocar a roupa, com o fuzil ou metralhadora servindo de travesseiro. Isso para evitar que chegasse alguém e estourasse um conflito”, comenta. “O dia da renúncia foi bastante complicado. Um dos ministros falou para o presidente: ‘dou 15 minutos. Se você não aceitar, vai estourar’. Quando faltavam uns cinco minutos para fechar os 15, ele aceitou. É que na época ele quis mexer com muita coisa e não conseguiu, não deu conta”, ressalta.

Um ano que fez a diferença

O ex-militar, hoje com 72 anos, lembra com carinho dos tempos de farda. Guarda em casa algumas fotografias, mas na memória preserva muitos momentos daquele ano que, segundo ele, fez a diferença em sua vida. Teve a oportunidade de fazer carreira no exército, poderia ter dado continuidade, mas naquele período a preocupação com a mãe era maior do que qualquer outra coisa, e decidiu voltar à Santa Catarina. Depois do retorno, entre os amigos do futebol, recebeu o apelido que o acompanha até hoje.

Conheceu três personagens importantes da história deste país. “O Juscelino vinha conversar com a gente, nos cumprimentava. O Jânio já era mais fechado. O Goulart começou bem, mas depois, com a situação do governo, mudou de postura. Deu para conhecer todos de perto”, lembra.

Tadeu Spilere|Fotos: Felipe Netto

História de perto: O grande Brasília da guarda presidencial
História de perto: O grande Brasília da guarda presidencial
História de perto: O grande Brasília da guarda presidencial

2 Comentários