Nicola Gava, de 55 anos, é um dos principais nomes quando se pensa em preservação histórica de Nova Veneza.
São mais de 30 anos dedicados ao trabalho voluntário em prol da preservação dos traços culturais de Nova Veneza. Mas a história de Nicola Gava começou muito antes disso, lá em 12 de fevereiro de 1963, quando chegava ao mundo o real guardião da cultura do município. “Desde então é uma vida dedicada à verdadeira história da cidade, dos seus colonizadores e da herança cultural que deixaram para que nós preservássemos. Porque acredito que os traços e hábitos vênetos e italianos são únicos e merecem ser tratados com o devido valor”, ressalta.
Atualmente com 55 anos, o neoveneziano conta que tudo nasceu a partir do carnaval de 1979, uma celebração de rua típica de comunidades de interior, que existia na época, e oportunidade em que nasceu o seu primeiro personagem cultural. “Como não tínhamos dinheiro para comprar trajes para essa festa, pegamos roupas das nossas avós e fomos fantasiados de nonas. E foi nesse momento que surgiu a Nona Angelina, interpretada por mim. Era uma personagem pública, que passou a aparecer mais vezes depois daquele ano, fazendo apresentações de rua e em celebrações pela região, sempre acompanhada com sua dupla, Pierina, na época interpretada por um amigo meu”, lembra Nicola.
Mais tarde, em 1983, Gava entrou para o rádio, veículo onde permaneceu ancorando programas tradicionais para a cultura por anos, como o “El Ritorno Alle Origini”. Posteriormente passou a tratar de assuntos jornalísticos no meio de comunicação, mas sem nunca esquecer seu viés cultural. Chegou a atuar, também, em um canal regional de televisão, com o programa “Immigrazione e Realità”.
Amigo de longa data, o jornalista Paulo Ottaran lembra que conheceu o neoveneziano quando começou a trabalhar no rádio, em Criciúma, lá pelo ano de 1992, e ressalta que falar de Nicola Gava é muito simples e fácil, e que existem várias formas de defini-lo.
“Ele é um cara que tem uma visão além do nosso mundinho e que está sempre procurando dar características diferentes aos trabalhos que desempenha. É um humorista nato, que tem um potencial enorme na área, mas que também não deixa de ter visão empresarial. É um sonhador, um homem visionário como poucos, espirituoso, e com uma visão de mundo muito maior que Nova Veneza”, completa.
Pela cidade
Especificamente em Nova Veneza, pensando em fortalecer a cultura neoveneziana, Nicola criou, em 1994, o programa ‘SOS Cultura’. “Foi uma tentativa de resgatar o patrimônio histórico e linguístico do município e da cultura italiana. Depois disso, mais tarde, em 1996, lançamos o livro ‘Cônego Amílcar Gabriel’, e com ele começamos a falar de turismo na região, na tentativa de sensibilizar a comunidade. É que havíamos percebido que a cidade possuía, já naquela época, potencial de geografia, um nome bonito, traços culturais e étnicos, boa gastronomia e vestígios históricos que chamariam a atenção de turistas. Só faltava lapidar esses pontos”, argumenta.
Na tentativa de aumentar o alcance do debate, aceitou um trabalho público e foi o primeiro secretário de Cultura de Nova Veneza, em 1997. No entanto, por não ter perfil político, acabou deixando o cargo menos de um ano depois. De lá para cá, passou a se dedicar inteiramente ao trabalho voluntário em prol das questões culturais e neovenezianas.
Neste tempo, já foram 78 viagens à Itália, realizadas em busca de pesquisas sobre o município, bem como por trabalhos para facilitar a conquista de dupla cidadania pelos conterrâneos da cidade sul catarinense. O guardião da cultura também já gravou seis CDs de músicas folclóricas, na série “Baúco Ma No Tanto”; nomeou mais de 20 empresas de Nova Veneza com nomes associados à história da cidade; e tem dois livros prontos para serem publicados e mais oito exemplares sendo escritos.
Acervo inimaginável
Além de tudo isso, Gava possui um acervo de aproximadamente 30 mil fotos ligadas ao município, sendo 5 mil mais antigas e 25 mil mais atuais; assim como documentos em áudio, artigos de museu e uma coleção de sinos e peças de moinho. Em relação às imagens históricas, muitos são os estabelecimentos e áreas de visitação da cidade que solicitam apoio na hora de decorar seus ambientes.
Como é o caso do Cartório de Nova Veneza, que, através de três imagens do acervo de Gava, recebeu painéis fotográficos decorativos. “Nicola sempre altruísta contribuindo para o fomento e preservação da cultura do município. Esse acervo é praticamente um relicário da nossa história”, ressalta o proprietário, Bruno Andrade.
Trabalho que perdura
Para o guardião, apesar de árduo, cansativo e muitas vezes não reconhecido, o trabalho para manter as raízes de Nova Veneza é mais que gratificante. “E todos podem perceber que ele é uma pessoa apaixonada por aquilo que faz e apaixonada pela mais italiana das cidades catarinenses”, reflete Ottaran.
E se depender do próprio Nicola, será um trabalho mantido ainda por muitos anos futuros. “É uma forma de reforçar que em cada lugar que se passa nessa cidade, tem um pouco, um toque, uma ação, do Nicola Gava. Nos monumentos em frente à igreja, na sede da Câmara de Vereadores, na Ponte Dei Morosi, bem na área Central… Me orgulha poder dizer que cada um desses lugares carrega um pouco da minha batalha pela preservação dessa cultura tão rica e bonita que é a de Nova Veneza”, finaliza.