Gordura vegetal pode diminuir o risco de AVC, sugere estudo

Já a fonte animal, encontrada na carne vermelha e processados, aumenta a chance do evento cardiovascular

Mais do que a quantidade de gordura ingerida nas refeições, a preocupação dos especialistas da saúde cardiovascular está agora no tipo e na origem dela. Estudo apresentado em um congresso da Associação norte-americana do Coração destaca que quem prefere carne vermelha (bovina, suína e cordeiro), processada (bacon, salsicha, mortadela e salame) e gorduras animais não lácteas têm um risco maior de Acidente Vascular Cerebral (AVC), em comparação aos adeptos das gorduras derivadas de fontes vegetais e as poli-insaturadas (óleo de soja, de girassol e mesmo sardinhas, por exemplo).

Para analisar o impacto de cada tipo de gordura sobre o risco de AVC, os pesquisadores examinaram dados de dois grandes estudos sobre fatores de risco para doenças crônicas — o Nurse’s Health Study e o Health Professionals Follow-up Study. Ao todo, os pesquisadores avaliaram informações de mais de 117 mil participantes, acompanhados ao longo de 27 anos. A média de idade era de 50 anos e todos não tinham diagnóstico de doenças cardiovasculares ou câncer no início dos estudos.

Ao longo do período, os participantes preenchiam questionários sobre a própria dieta para o cálculo da quantidade de gordura consumida. Nos resultados, os pesquisadores destacam:

  • 2.967 participantes tiveram AVCs isquêmicos (coágulo que corta o fluxo sanguíneo para uma parte do cérebro) e, em 814, hemorrágicos (sangramento de vasos no cérebro);
  • Aqueles que consumiram mais carne vermelha apresentaram um risco 8% maior de AVC. No caso dos que ingeriram mais carne processada, o aumento foi de 12%;
  • O grupo que ingeriu a maior quantidade de gordura animal não láctea apresentou uma probabilidade 16% maior de sofrer um AVC, em relação àqueles que consumiram menos;
  • Os participantes que comeram mais gordura vegetal e poli-insaturada apresentaram uma probabilidade 12% menor de ter um AVC, em comparação com aqueles que ingeriram menor quantidade.

Já a gordura láctea, encontrada no queijo, manteiga, leite, sorvete e creme, não foi associada a um maior risco, segundo o estudo. “Este tipo de gordura contém ácidos graxos saturados de cadeia curta de átomos de carbono, que são mais facilmente metabolizados pelo organismo”, explica Jorge Mancini Filho, representante da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (Sban). “[Enquanto] os ácidos graxos saturados de cadeia longa estão em maior quantidade na carne vermelha.”

Gorduras animais e vegetais: como agem no organismo?

De acordo com Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), as gorduras de origem animal favorecem o aumento do colesterol LDL (considerado ruim), o que motiva o desenvolvimento de placas de gordura nas paredes internas dos vasos sanguíneos. “Com isso, aumentam os problemas de saúde não só cardiovasculares, mas também inclui a possibilidade de AVC”, detalha.

Já as gorduras vegetais, que são encontradas no azeite de oliva e nas oleaginosas, como avelã, castanhas e nozes, costumam ser mais benéficas porque diminuem o colesterol LDL e aumentam o HDL (considerado bom), segundo o especialista.

No entanto, Ribas afirma que a carne vermelha e a gordura animal não precisam ser retiradas da dieta, e indica a proporção mais adequada para uma alimentação saudável. “Uma dieta de 2 mil calorias diárias deve incluir 10% de gordura saturada, 10% de monoinsaturada e 10% de poli-insaturada, e de 20% a 35% de proteínas e em torno de 55% a 65% de carboidratos”, explica.

A gordura saturada é encontrada em carnes vermelhas, bacon, creme de leite, ovos, queijo, manteiga e iogurte, por exemplo. Já nozes, castanhas, sementes, peixes, óleos vegetais e abacate são alguns dos alimentos que são fontes de gorduras mono e poli-insaturadas.

Por Alexandre Raith, da Agência Einstein