Frei Marcos Huk: Felicidade, o que é? Leia o texto até o fim, para entender que Jesus lhe quer feliz.

A felicidade é imanente no ser humano, assim se pressupõe. A partir da felicidade e de tantas outras emoções constitutivas da personalidade humana, entende-se que a imanência, paradoxalmente, no indivíduo, para ser factual, exige a transcendência. Parece absurdo, mas assim se concluiu: a imanência, para ser libertadora e não alienante necessita percorrer o caminho da transcendência e vice-versa, para que a transcendência não fique nas vias do irracional, precisa se apoiar na imanência. A imanência de mãos dadas com a transcendência. O pecado da cultura moderna consiste no fato da imanência ter largado a mão da transcendência e acreditado que dava conta do indivíduo sozinha. Esquecimento de Deus ou tê-Lo isolado dentro dos templos.

Jesus sempre deixou claro que o Reino de Deus para ser ascendido, necessita destas duas dimensões. Em outras palavras, não é possível chegar no Reino de Deus (transcendência) se este não se fizer “presença” (imanência) no dia-a-dia do indivíduo.

Viu-se na reflexão passada que a felicidade do indivíduo e da comunidade, é preocupação de Jesus – Deus se preocupa com os seus (com a gente).

No texto passado, vimos a felicidade enquanto transcendência, fazer a vontade de Deus para ser feliz. No texto deste terceiro domingo do tempo comum, percebe-se a felicidade imanente. Ou seja, Jesus nos desafia para entendemos que a felicidade é verdadeira quando a dignidade do ser humano é recuperada – e esta consiste em poder ver, andar, saúde, liberdade, entre outras condições mínimas que caracteriza a pessoa, integralmente.

Disse o texto, Jesus entrou na sinagoga, como de costume, leu a passagem de Isaias: “o Espírito de Deus está sobre mim e Este me enviou para devolver a vista aos cegos, o andar aos coxos, a saúde aos doentes, a liberdade aos prisioneiros”.

São Lucas, no início do seu evangelho, diz que este foi construído sistematicamente para ser entendido por todos seus leitores. Por isso, metaforicamente, no todo do evangelho, pede-se um olhar vertical, mas que seja ao mesmo tempo um olhar horizontal. Jesus nos mostra que quem olha para cima tem que olhar ao seu arredor.

Então, concluindo, no evangelho deste domingo, Jesus nos mostra que a felicidade para não ser alienante tem que ser: por exemplo, o olhar – sou de Deus, portanto tenho dignidade (olhar vertical); eu sou, portanto não sou massa nem mercadoria que pode ser vendida (olhar horizontal); ainda, sou diferente do outro, portanto ele tem também dignidade e, por isso, não é mercadoria, assim, devo zelar por ele (olhar horizontal e vertical). Segue a mesma estrutura com o andar, a saúde, a liberdade e outros atributos constituintes da dignidade humana.

A felicidade é fruto de uma atividade responsável iniciada e terminada em Deus. A responsabilidade, hoje em dia, assusta porque exige “incomodação” comigo e com o outro – em outras palavras, a responsabilidade exige sair do cômodo.

Não tenha medo de ser feliz, se incomode consigo mesmo (a) e com o outro (a). O resultado deste deslocar-se do centro para se enxergar melhor e também ver mais nitidamente o outro, é a felicidade. Deus abençoa a quem se volta para Ele e se volta para o próximo.

Este caminho nos faz verdadeiramente felizes, porque é isto que nos ensina Jesus com o seu fazer e com suas palavras. Jesus almeja uma felicidade libertadora para os seus.

Uma ótima semana, feliz e abençoada por Deus. Frei Marcos.