Sabe-se que mulheres que sofrem de enxaqueca têm mais risco de desenvolver pré-eclâmpsia durante a gravidez. Agora esse dado acaba de ser reforçado por um estudo apresentado no encontro da Academia Americana de Neurologia, que acompanhou mais de 30 mil gestações em cerca de 19 mil mulheres ao longo de 20 anos. Os autores constataram que elas também apresentaram maior chance de parto prematuro e de desenvolver hipertensão.
A pré-eclâmpsia é uma doença específica da gravidez, que costuma surgir após a 20ª semana de gestação e é caracterizada por pressão alta, perda de proteínas pela urina e inchaço nas pernas, podendo haver lesões em órgãos como os rins e hemorragias cerebrais. Ela pode se manifestar de formas mais graves, como a eclâmpsia, que causa convulsões e outras complicações, colocando a vida da mãe e do bebê em risco.
Embora não se conheçam bem os mecanismos ligando as duas condições, sabe-se que tanto a enxaqueca quanto a pré-eclâmpsia estão relacionadas a distúrbios vasculares e inflamatórios, que ocorreriam na parede dos vasos, o endotélio. A dor de cabeça pode ser um dos primeiros sinais da complicação gestacional, além de sintomas como visão embaçada. Nesses casos, a dor costuma ser pulsátil e progressiva, piorando com esforço físico e difícil de ser aliviada com remédios.
Dificuldade de diagnóstico
A dificuldade diagnóstica pode se dar pelo fato de as pacientes com enxaqueca apresentarem dores de cabeça frequentes e isso ser confundido com o início do quadro da pré-eclâmpsia. Especialistas calculam que metade das mortes por eclâmpsia poderiam ser evitadas se a doença fosse detectada a tempo.
“Esses dados devem servir de reforço para que se lembre que a mulher portadora de enxaqueca apresenta maior risco de desenvolver a pré-eclâmpsia e isso deve ser levado em conta quando a mulher faz o pré-natal”, observa o neurologista Alexandre Kaup, do Hospital Israelita Albert Einstein. “Por ser uma condição presente muitas vezes desde a infância a enxaqueca muitas vezes não é lembrada como um problema de saúde nem pelas pacientes nem pelos médicos. Esse dado deve ser observado durante o acompanhamento da gestação”, enfatiza o médico.
Daí que neurologistas e obstetras têm que estar muito atentos a qualquer sinal de problemas, monitorando a saúde da paciente de perto, avaliando se houve mudança nas características da dor de cabeça e a pressão arterial.
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein