Dizer não

Dizer não, tarefa difícil, tudo e o tempo inteiro é arquitetado para dizermos sim. As lojas que entramos, os lugares que frequentamos, as mídias que consumimos.

O clique é meticulosamente medido, estudado, e com o apoio da ciência, desenhado para atrair nossa atenção, capturarmos. As redes sociais são mais que isso, levam a ideia ao extremo, com o objetivo de nos fazer ficar nelas o maior tempo possível, obrigamos a dizer sim o máximo de vezes possível. Aqui o sim não é o curtir, o sim é a visualização, a interação, e ali já foi mais de 1 hora, ops foi mais uma e nem vi.

Dizer não vem se tornando cada vez mais impossível, ao dizer não você pode ser julgado, não irá receber sua recompensa, será excluído, dizer não é o próprio pecado do século XXI. Produtores de alimento sabem o que seu corpo gosta, vendedores entendem o que você quer, a mídia se aproveita de tudo isso e mais um pouco.

Mas falar em dizer não é apenas uma digressão, ainda mais se não lhe perguntar; e você o que quer? Dizer não te aproxima ou afasta de atingir isto, pois é, se dizer sim te aproxima, vai lá e seja feliz, dizer sim é automático, tudo é planejado para isso. Mas agora se é dizer não que você precisa, ai ferrou!

Meu amigo, tudo vai contra esta resposta, absolutamente tudo, nada em nossa volta é planejado para isso, todo jogo é arrumado pra que seja quase impossível, se você diz não, ninguém lucra, se você diz não, nem a ciência se paga, tem muita pressão, muita pressão… Uma torcida que faz silêncio e vibra, um mundo organizado pela arapuca, agora, vale apena se prender nela? Bom, longe da utopia do ermitão incorruptível, que vive em uma caverna nas montanhas, será que alguma vez não vela mais apena dizer não?

Texto de autoria de Gian Paulo Mazzucco Jung