Atenta aos apelos do Papa Francisco à Igreja no mundo e em sintonia com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Diocese de Criciúma promoveu hoje, 4, e repetirá no próximo sábado, 6, o Estudo Diocesano da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016.
Com o tema “Casa Comum, nossa responsabilidade” e lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24), a CFE foi objeto de reflexão para mais de 150 padres, religiosas e lideranças paroquiais, reunidas na manhã desta quinta-feira, na Fundação Shalom da Família, em Linha Batista.
Sob a assessoria dos professores do curso de Engenharia Ambiental da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), José Carlos Virtuoso e Carlyle Torres Bezerra de Menezes – Carlyle, também professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA – Mestrado e Doutorado), e Zeca, aluno do doutorado e presidente da Comissão de Meio Ambiente e Valores Humanos – o grupo foi provocado através do método “ver, julgar e agir”.
Católicos, os professores conhecidos por sua dedicação às questões ambientais na região, mostraram um pouco da realidade local, estadual e nacional. “Duas das principais cidades de Santa Catarina, que ajudam a colocar SC entre os estados mais desenvolvidos do país pelo PIB elevado figuram entre as 10 piores cidades, em relação à coleta e tratamento de esgoto, Joinville e Blumenau”, iniciou o professor Zeca Virtuoso, com base no Sistema Nacional de Informações de Saneamento (SNIS), dados de 2012.
Saneamento básico é um dos principais problemas
Diversos casos de problemas com saneamento básico foram relatados, com a exibição de fotos de praias do litoral sul catarinense e de bairros de Criciúma. Mas, conforme os professores da Unesc, o problema não é exclusivo do Estado, um dos cinco mais ricos da federação e o penúltimo em saneamento, onde apenas 14% da população é beneficiada com tratamento de esgoto. Conforme dados do IBGE, em 2011, apenas 28,2% dos municípios brasileiros possuíam Política Municipal de Saneamento Básico. Na Associação dos Municípios da Região Carbonífera (AMREC), segundo Zeca, os planos ainda estão sendo elaborados, faltando as políticas públicas para o enfrentamento efetivo do problema.
“Muitas vezes é cômodo colocar o saquinho de lixo na frente de casa e não saber para onde vai. Criciúma, com mais de 200 mil habitantes, há 10 anos, não tinha aterro sanitário, mas um lixão, onde se depositava, inclusive, lixo hospitalar”, revela o professor Carlyle Menezes.
Desenvolvimento urbano deve ser discutido
Conforme Carlyle, é necessário discutir o desenvolvimento das cidades. “A crise não é do planeta, é da civilização: nós é que estamos destruindo o planeta; nós é que judiamos e achamos que o planeta Terra está nos dando o troco. Se continuarmos com esse modelo de sociedade, com esse consumismo desenfreado, o planeta não suportará a pressão”, pontuou.
Carlyle também falou sobre os problemas do Rio Criciúma, que atravessa o centro da cidade. “Dizemos que o rio invadiu as nossas casas, mas esquecemos que nós é que o sufocamos” – referindo-se aos prédios construídos sobre o leito do rio – “resolvemos o problema em Criciúma, temporariamente, transferindo-o para a região da ‘Baixadinha’”. De acordo com o professor, a estação de tratamento de esgoto não cobre nem 30% do volume produzido no município.
Reflexão tem base em carta do Papa
A CFE 2016 tem como base a carta encíclica Laudato Si’ (Louvado sejas), escrita pelo Papa Francisco, “sobre o cuidado da Casa Comum”, o planeta. “Do ponto de vista ambiental, há uma realidade muito precisa nesta encíclica, cuja leitura deveria ser obrigatória, inclusive nas escolas. Não tem uma linguagem técnica, científica, mas muito simples e muito completa”, avalia Carlyle.
Responsabilidade de todos
“Nós somos cidadãos planetários. O que fazemos aqui, tem reflexos no outro lado do planeta. O modelo de desenvolvimento que seguimos está esgotado. Se quisermos manter este padrão de desenvolvimento, teríamos que ter cinco planetas Terra. Há um limite de crescimento e precisamos saber cuidar. O colapso está em curso. Precisamos repensar nossa forma de pensar, de olhar, mudar nossa postura com respeito à natureza e ao próximo, buscar conhecimento para julgar de forma correta e agir de forma adequada”, frisou Dr. Carlyle.
Lideranças apontam necessidades e sugerem iniciativas
No final da manhã, foram formados grupos, organizados por região, afim de apontar situações evidentes nas comunidades que necessitam de solução. Entre os diversos problemas citados pelas equipes, foram destaque a necessidade de implantação da coleta seletiva de lixo nos municípios e, onde ela já existe, a colocação de lixeiras próprias para isso; tornar conhecida a lei do Saneamento Básico e cobrar por sua implantação; divulgar ações que colaborem com o uso responsável dos recursos naturais através de cartilhas e projetos de educação ambiental em comunidades e escolas; lutar pela recuperação de rios poluídos (como o Rio Mãe Luzia); acompanhar as as sessões nas câmaras municipais e fiscalizar o cumprimento dos planos diretores; dialogar com outras igrejas cristãs afim de promover ações coletivas; apoiar as ações dos comitês de bacia hidrográfica na região e o trabalho dos catadores de material reciclável.
Segundo dia de estudo
O próximo dia de estudo será realizado no sábado, 6, no auditório da Paróquia Nossa Senhora da Oração, em Turvo, das 08h30min às 12h30min. Após sua realização, os assessores se comprometeram a, junto a Coordenação Diocesana de Pastoral, redigir um documento com ações concretas a serem realizadas pelas comunidades no ano de 2016.