Tadeu Spilere / Jornal Nossa Gente
Jaime Semprebom utiliza máquinas elaboradas por ele mesmo nos cuidados com o sítio
Muito ouvimos falar que o brasileiro, diante da necessidade, dá um jeito, se vira, usa o que tem, elabora, inventa, usa toda a criatividade. Porém, nem todos o fazem com talento. Para lidar, por exemplo, com mecânica ou eletrônica é preciso muita habilidade e conhecimento.
No sítio localizado na comunidade de São José, onde mora com os pais, Jaime Semprebom, de 36 anos, cuida das terras da família, das plantações e do gado. Isso quando não está trabalhando como técnico em eletrônica no centro de Nova Veneza e em Criciúma.
O que chama a atenção é que as principais máquinas que utiliza para cuidar da propriedade foram construídas por ele mesmo. E não é coisa simples. Um pequeno trator repleto de funcionalidades e um “girico” (carreta agrícola motorizada) também rico em detalhes. Além disso, outros utensílios para o desenvolvimento do trabalho no sítio foram elaborados por ele.
Os automóveis são uma junção de diversos tipos de peças, tanto de carros quanto de motos. Também contam com madeira e pequenos objetos que foram usados como complemento. Cada um foi construído em uma média de três meses, após o horário comercial e também nos fins de semana.
“Quando era criança sempre via algo parecido aqui pela Veneza e pensava: ‘um dia vou fazer um igual’. Quando juntei um dinheirinho para comprar as peças consegui fazer”, conta. “Utilizo basicamente para tratar o gado e cuidar das terras. Planto milho, carrego cana, pedras e outras coisas assim”, complementa.
Os pais de Jaime já têm idade avançada e por isso ele é o responsável pela atividade mais pesada. Com o talento que possui, conseguiu elaborar máquinas que gastaria muito dinheiro para comprar prontas.
“Surgiu por necessidade e também por curiosidade. Queria saber como iria ficar. Sempre tive esta habilidade, mas não tinha recursos. Depois consegui unir o útil ao agradável”, ressalta.
Outro equipamento interessante construído pelo neoveneziano é um mexedor de cama de aviário. Um utensílio feito por ele que está à venda. Os diversos detalhes e peças que precisaram ser adaptadas tomaram mais tempo no processo de construção, mas o resultado é a funcionalidade.
A habilidade natural e vontade de aprender
Desde criança, Jaime desenvolveu o talento motivado pela curiosidade
Ao observar o resultado do trabalho de Jaime, logo se imagina que ele enfrentou qualificados cursos de eletrônica e mecânica, estudou com grandes profissionais e tudo o mais. Porém, ouvindo a sua história, percebe-se que é uma pessoa autodidata, curiosa, com vontade de aprender e que tem facilidade para absorver conhecimento.
“O ‘gerico’ eu vi em uma revista de automobilismo e fui pesquisar. Outras coisas vejo na internet. Mas vou olhar para não copiar. Gosto de fazer do meu jeito, com a minha cabeça. Faço uns rabiscos em um papel e depois começo a trabalhar”, explica.
Desde criança já estava claro qual o caminho que Jaime iria seguir. “Minha primeira invenção foi uma lanterna, quando tinha uns 10 anos. Foi num domingo e lembro que fiquei esperando escurecer para ver se tinha ficado boa (risos). A luz ficou fraca, mas depois fui aperfeiçoando”, relembra.
“Na adolescência, em 1995, fiz um rádio amador para me comunicar com o meu vizinho. Falávamos bastante através dele, em uma época em que não havia telefone. Era simples, mas fui melhorando”, conta. Hoje Jaime tem uma estação de rádio amadora em casa.
Na oitava séria já consertava alguns aparelhos eletrônicos da escola. Resolveu então buscar mais conhecimento. Fez um curso por correspondência com 30 apostilas, que concluiu em um ano. Assim, se desenvolveu profissionalmente como técnico e continuou se dedicando às invenções.
Atualmente, concentra mais a criatividade à mecânica. Uma área que, segundo ele, gostaria de se envolver mais, inclusive de forma profissional. A paixão é tanta que na oficina, que fica atrás da residência, Jaime coleciona motores antigos. Cada um, de acordo com ele, carrega sua história.
O neoveneziano é um exemplo de que a inteligência, muitas vezes, vai além da sala de aula ou de um diploma. A simplicidade está apenas no jeito de ser, pois o trabalho realizado, de simples não tem nada.