Não eram nem dez horas da noite ainda, e pensava que logo mais ao amanhecer teria que trabalhar. O corpo todo tremia, e pensava que talvez o melhor fosse nem ver o dia nascer. A cabeça parecia uma metralhadora de tantos pensamentos que eram disparados. Eram tantas acusações, tantas certezas, tantos destinos traçados de uma só vez, que não havia possibilidade de pensar e buscar racionalizar algo de tudo aquilo que surgia.
Olhava para uma foto que ainda vive em meu apartamento. Cada vez que a via, parecia que o coração saltaria boca afora. Literalmente pensava que ele me escaparia. O nó na garganta era tão forte, que parecia que algo me era empurrado estomago acima. Sentia uma dor muito grande em minha boca, as lágrimas escapavam aos baldes, e nem ao menos conseguia falar. Mas falar com quem? Falar para que? Tudo estava perdido! Nada iria mudar!
Estes eram alguns dos pensamentos que surgiam em meio a tudo isso. Meu corpo tremia, e a medida que os minutos passavam, me encolhia cada vez mais na cama com a certeza do quão fracassado era. Ela havia escapado! Ou melhor, deixei ela fugir de minhas mãos, como uma criança que perde o que mais ama. Não sabia ao certo o que fazer com tudo isso. Uma voz me dizia que não tinha sido minha culpa, enquanto tantas outras mais reafirmavam minha responsabilidade por todo o ocorrido.
O excesso de pensamentos que me conduziam, impedia de pensar em qualquer outra coisa. No fundo sabia que tudo aquilo não era real, que era apenas resultado de coisas mal resolvidas. Mas no momento de emoção, nenhuma razão se sobrepõe as certezas que a mente insiste em me apresentar.
Tremia muito, sentia minhas pernas perderem totalmente sua força. Tinha sede, vontade de chorar mais ainda, enquanto os pensamentos davam uma falsa sensação de que iriam diminuindo. Pensava em outras coisas, mas quando lembrava dela, tudo voltava. O choro, os tremores, o coração que parecia querer fugir, os soluços, as certezas, e o medo de nunca mais conseguir sair disso.
Parece tolice tudo isso. Me sinto vazio, como um copo esquecido no fundo de uma prateleira. Meu corpo reage novamente e tudo volta com a intensidade de antes.
Os pensamentos continuam, e minha mente insiste em reafirmar o quanto sou um lixo. Olho para o celular, rolo minhas redes sociais e vejo o quanto todos são felizes, enquanto eu me debatia entre minhas incertezas. Penso que amanhã preciso trabalhar, e isso me gera angustia, aflição. A vontade agora e de poder dormir para sempre, e talvez me livrar deste mundo que parece não me pertencer. Choro novamente, mas agora sem soluços. Choro por não ter conseguido ser nada em minha vida. Choro por ter a certeza de que nada mudará, e que o mundo talvez me reserve o pior dos destinos.
A essa altura já não tenho mais vontade de fazer nada. A vontade de beber ou fumar algo qualquer já parece ser incontrolável. Tenho vontade de me matar, porém esta não me parece ser uma boa ideia. Olho para o relógio e vejo que lá se foram vinte minutos. Estou cansado. Melhor, estou exausto! Parece que fazem no mínimo três noites que não durmo e logo penso que esta será uma das noites mais longas de minha vida. O sono não demora a vir. A manhã não demora a chegar. Acordo, vejo que já é dia. Os pensamentos já se foram, o cansaço persistiu. Parece que fui atropelado por um carro, sinto meu corpo grudado a cama e penso se por acaso teria mais cinco minutos para dormir.
Já é hora de levantar. Sento-me a cama, o retrato dela ainda permanece lá! Vejo agora a lembrança de alguém especial, que mesmo depois de morta, ainda permanece tão viva em mim. Mais pensamentos, mais lágrimas, mais tremores e mais certezas que rodeiam minha mente. Mais um dia…