A crise de expectativa que derruba o Criciúma

O ponto mais alto da classificação que o Criciúma alcançou foi a sétima colocação. No 2º turno, perambulou entre a 7ª e 10ª posição. Apesar de nunca se mostrar capaz de lutar por uma das quatro vagas na Série A, o discurso dentro do clube sempre foi de busca por uma vaga na primeira divisão.

À primeira vista, é natural. Um clube com a tradição e o peso do Criciúma costuma conviver com a pressão do topo da tabela. Mas antes de cobrar algo mais firme, é preciso contextualizar fatos, deixar a paixão de lado e esquecer qualquer tipo de discurso mimado.

Colocando todos estes fatos na mesa, fica evidenciado que o maior problema do clube foi a crise de expectativa. A diretoria carvoeira fez pouco esforço para elevar o patamar do time, mas incutiu no grupo de atletas, que transmitia ao torcedor, a falsa sensação de que poderiam subir. Entretanto, quando a realidade bateu, as derrotas vieram e o estado anímico e psicológico da equipe foi ralo abaixo.

O ápice dessa crise de expectativa foi a demissão de Luiz Carlos Winck. O treinador, que tirou o Tigre da zona de rebaixamento, colocando em condições mais tranquilas na Série B, foi demitido exatamente porque a diretoria queria um algo mais. Mas será que isso foi disponibilizado a ele? Por mais que algumas contratações, todas indicadas pelo treinador, tenham sido retumbantes fracassos, a ausência de um homem forte no futebol, capaz de captar atletas, compreender o modelo de jogo do time e entender qual o encaixe dele, fez com que Winck ficasse refém do elenco limitado que tinha.

Sua demissão foi o ponto crucial para a queda de rendimento. Foi o aviso claro da diretoria ao torcedor: nós queremos subir e entendemos que com esse elenco dá. Mas não dava. O plantel é limitado, o time completará o ano com um zagueiro na lateral, sobram velocistas para o ataque, faltam centroavantes para competir, sobram condutores da faixa central, faltam construtores da área crítica do jogo. O grupo de jogadores é bastante desequilibrado.

Beto Campos, o substituto de Winck, tem feito pouco. Não resolveu problemas crônicos do time, como o espaçamento entre os setores e a lentidão na saída de bola. Até o fim do ano, difícil crer que mudará algo. É o menos culpado disso tudo, ressalte-se. Pegou uma bomba e agora precisa cuidar para não deixa-la explodir.

O Criciúma, que tanto pensou em acesso, por mais que a distância para o G4 mostrasse o quão era difícil, se esqueceu que começou a Série B lá embaixo, nas últimas colocações, e que precisa valorizar esse crescimento. Ao valorizar isso, vai entender que a temporada não acabou e que precisa chegar logo aos 45 pontos e evitar o rebaixamento. Lamento que, com a crise de expectativa, esse discurso tenha sido colocado para baixo do tapete dentro do clube.

O torcedor não iria gostar, a imprensa provavelmente pegaria no pé, mas o Criciúma não pode mimar ninguém. Se colocasse na cabeça desde o princípio que a meta era evitar a queda e depois “ver no que dá”, talvez estivéssemos tecendo comentários mais elogiosos ao clube. Mas enquanto fica no “feliz Natal” e pensando na chegada do bom velhinho, os times de baixo se aproximam, e o presente natalino tão desejado, pode ser um legítimo presente de grego com um C estampado no pacote.