Cassinos em Santa Catarina: vai calhar zero na roleta?

A liberação dos jogos de cassino é a bola da vez. Ao iniciar esse artigo, prevenimos que estamos abordando do ponto de vista do impacto econômico e de suas implicações políticas. Esse não é o espaço para debater se será certa ou errada a liberação dessa atividade. O tema, sem dúvida, é bem polêmico. Mas aqui vamos abordar do jeito que está sendo abordado pelos responsáveis políticos e econômicos brasileiros, de todas as áreas: como um novo mercado que pode estar quase a nascer.

O leitor que seja contra a liberação dos jogos de cassino por uma questão de princípio moral, de valores ou de seus nefastos efeitos sociais – essa é a inspiração do movimento “Brasil Sem Azar” – só poderá ficar contente com nosso artigo se concluir que Santa Catarina pode acabar sem cassino nenhum. Mas não queremos que essa seja a hora de defendermos uma ou outra posição, mas sim de mostrarmos o que está sendo feito. Afinal, os maiores políticos conservadores de nosso país estão abrindo a porta para os cassinos; isso será sinal de algo, certo?

Impasse na liberação

Muito debate tem acontecido nos últimos quase cinco anos, com o PL 186/14, e a aprovação do texto era dada como certa em 2018. Entretanto, no final, tudo ficou em pizza. O projeto foi vetado em março e seus promotores, embora tendo a possibilidade de voltar com ele para o Senado, não o fizeram; o momento não era favorável, por via da aproximação da eleição presidencial. Nem cassinos nem nenhuma outra forma de jogo foi permitida; se você quiser jogar, só mesmo em caça níqueis online e outras formas de jogo acessíveis através da internet.

Mas o lobby da liberação não parece estar pronto a desistir. Pode é assumir outras formas, inesperadas para quem não estivesse atento.

Rumores: Las Vegas e Rio de Janeiro

Você notou que Marcelo Crivella, o prefeito da Universal, o político que cortou na subvenção do “maior carnaval do mundo”, um dos grandes símbolos da virada conservadora no Brasil, vem se reunindo com empresários de cassinos já faz algum tempo? Talvez não tivesse notado, pois nem sempre a mídia dá destaque a esse tipo de notícias. Certo é que Crivella teve jornalistas questionando se o grande empresário de Las Vegas, Sheldon Adelson, estava interessado em abrir um cassino no Rio – como já tem na cidade americana, em Macau, Singapura e outros. Crivella evitava falar abertamente no assunto.

Agora já não evita. Em dezembro, o prefeito do Rio falou para a mídia que tem uma proposta de investimento de 10$ bilhões e a promessa, ou possibilidade, de gerar 50.000 empregos, e falou explicitamente no nome de Adelson. Justificou a aparente contradição entre seus princípios e o jogo de azar (“As pessoas sabem que se não tivermos emprego, vamos para o caos social. E joga quem quiser”) e falou ainda que espera ter ajuda de Bolsonaro para conseguir uma superlicença especial para esse projeto, passando ao lado da lei atual.

E o resto do país?

Ainda não se ouviu nada do presidente Bolsonaro sobre isso, nem sobre o PL 186/14. Sabemos que Bolsonaro, mesmo sendo contra os jogos de azar, também mantém uma porta aberta em nome do investimento e da criação de emprego. Ele falou isso mesmo durante a campanha eleitoral (numa coletiva com empresários cariocas, relatada pelo site Valor). Além disso, ele pressionou para a aprovação da criação do regime de apostas esportivas, sancionado pelo presidente Temer ainda em dezembro – foi uma das primeiras iniciativas do presidente eleito, antes mesmo de tomar posse. Prova que Bolsonaro vem com algum pragmatismo nessa matéria.

Os candidatos catarinenses

O Costão do Santinho seria o candidato mais evidente a receber uma infraestrutura como essa, e sem dúvida que Florianópolis seria colocada nas rotas do turismo nacional e internacional, em todo o Cone Sul, com esse tipo de empreendimento. Vem se falando também que Balneário Camboriú não gostaria de ficar para trás e pretenderia um grande cassino como motor de desenvolvimento turístico. Prevê-se uma forte competição – até porque, se o projeto de lei 186/14 for aprovado do jeito que foi lançado, Santa Catarina teria direito apenas a um cassino-resort desse tipo.

Mas será que Bolsonaro, ou o Congresso, vão permitir passos nesse sentido? Não será mais fácil ceder às tentações dos grandes Adelsons (diz-se que o empresário terá sido um grande financiador da campanha de Bolsonaro, o que nem seria estranho por conta do apoio público que ele já deu a Donald Trump e à evidente proximidade ideológica), dos Crivellas e da própria dinâmica das grandes metrópoles do Sueste?

Mais uma vez, o Sul precisa fazer ouvir sua voz. Um duopólio Rio-S. Paulo nessa matéria seria, pela enésima vez, uma forma de não reconhecer o papel de nossa região no desenvolvimento nacional. Nossos poderes públicos precisam estar atentos e ativos.