Brasileiro ganha 6,5 kg, em média, durante pandemia

Sobrepeso merece atenção e pode ser tratado com mudanças no estilo de vida, além de medicamentos e procedimentos cirúrgicos

Mudanças na alimentação e a falta de exercícios físicos, além da pandemia da covid-19, contribuíram para um aumento médio de 6,5 kg na balança dos brasileiros. O país, inclusive, foi o que mais engordou no período, entre 30 avaliados em uma pesquisa conduzida pela Ipsos Global Advisor.

Aqui, mais da metade dos entrevistados (52%) afirmaram que ganharam peso desde o início da pandemia. A média global foi em 31%, com cerca de 6,1 kg. Em segundo lugar ficou o Chile, com 51% da população indicando o aumento na balança. Em último, a China, com 6%. Mais de 22 mil pessoas foram entrevistadas para o levantamento, realizado entre os meses de outubro a novembro de 2020.

Embora seja comum engordar devido ao longo período em casa, o sobrepeso deve gerar um alerta para a obesidade, de acordo com André Augusto Pinto, cirurgião geral e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica e Minimamente Invasiva (SOBRACIL). “O ideal é que todos os brasileiros fiquem com o IMC [Índice de Massa Corporal] entre 20 e 25. Alguns pacientes podem estar com sobrepeso, com IMC entre 25 e 30”, destaca.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica — tratamento associado ao controle da obesidade —, o número de procedimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) reduziu 69,9% entre 2019 e 2020, pela redução nas cirurgias durante a pandemia. Em 2019, 12.568 procedimentos foram registrados. Em 2020, 3.772. Via planos de saúde, a entidade também indica redução, porém menor: 11,9%. De 52.599 procedimentos em 2019 para 46.419, em 2020.

Os cuidados com o sobrepeso, por outro lado, não exigem medidas invasivas, no geral, mas principalmente a incorporação de exercícios físicos e mudanças na alimentação. Medicamentos e outras técnicas serão necessárias apenas sob avaliação médica.

Métodos aliados contra o sobrepeso

Se as mudanças no estilo de vida não surtirem efeito ou se houver dificuldades em segui-las, pode ser recomendado o uso de remédios ou procedimentos para o controle do peso.
“O uso de medicamentos tem uma ‘linha de corte’ para IMCs acima de 27 com alguma comorbidade ou IMCs maiores ou iguais a 30. A indicação sempre deve ser feita por um médico especializado”, explica Maria Edna de Melo, presidente do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Segundo os especialistas, os medicamentos usados atualmente são:

• Liraglutida: controle da glicemia e do apetite do paciente;
• Semaglutida: usado no tratamento do diabetes tipo 2 e aprovado pela agência regulatória norte-americana FDA contra a obesidade. No Brasil, a indicação não consta na bula e o uso é feito de forma off label, por indicação médica.

Três remédios que, no passado, eram receitados para perda de peso tiveram a venda banida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no início de outubro. A anfepramona, femproporex e mazindol receberam a proibição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2011. Desde 2017, no entanto, o STF havia liberado a comercialização, ainda que sem o registro da agência. Desta vez, por considerar a medida inconstitucional, a venda passou a ser proibida novamente.

Outros procedimentos que podem ser indicados contra o sobrepeso são:

• Gastroplastia endoscópica: técnica que sutura o estômago por meio de uma endoscopia, reduzindo o espaço da câmara gástrica. É indicada a pacientes com sobrepeso, obesidade grau 1 e se tiver contraindicação da cirurgia bariátrica;
• Balão intragástrico: técnica menos invasiva, consiste na introdução de um balão no interior do estômago, a fim de gerar sensação de plenitude, diminuindo a vontade de comer.

A cirurgia bariátrica é indicada como último recurso, e exige critérios. “A cirurgia bariátrica deve ser feita em pacientes com IMC acima de 40. Aqueles pacientes com obesidade grau 2, mas que já tenham doenças associadas, também têm indicação. A cirurgia, às vezes por robótica, tem baixo risco e resultados excelentes”, explica André Augusto Pinto, cirurgião geral.

Por Priscila Carvalho, da Agência Einstein