Frei Marcos Huk: Autoconhecimento é um dos princípios para se conhecer a Deus

Quem não se conhece não consegue conhecer a Deus. Conhece-te a ti mesmo, está é uma máxima bastante antiga. Na filosofia, como na teologia e nas outras ciências, a pessoa, para se mostrar sábia, deve confessar sua ignorância. Sócrates diz: só sei que nada sei; Platão, parte do princípio que nada sabe, pois consiste num processo contínuo de recordação; Aristóteles, afirma a coragem de se deixar admirar pelas coisas que estão a sua frente.

Bonito, confessar a ignorância é o princípio do autoconhecimento.

Nas leituras deste final de semana, encontra-se um convite de Deus para que a pessoa tome posse de suas paixões, conhecendo, assim, suas emoções.

Na primeira leitura, Livro da Sabedoria, encontra-se a indicação de que o ímpio trama ciladas contra o justo, porque este lhe incomoda. A palavra incomodar tem muito a nos ensinar. Ou seja, para um autoconhecimento, deve-se olhar com atenção tudo aquilo que está incomodando.

Em outras palavras, a busca humana consiste na aquisição de situações cômodas, então, aquilo que lhe tira do cômodo necessita cautela. Mas, atenção: o sentimento do incomodo ocorre sempre no interno da pessoa (subjetivo) – sensação da alma. Por isso, não adianta ficar apontando com o dedo para fora de si objetos para sarar uma ferida na alma. Numa situação de incomodação, a pessoa que sofre tem que procurar entender o “porquê” daquela situação e o que está acontecendo que lhe faz sofrer na alma.

São Tiago, na segunda leitura, diz que a invejas e as rivalidades, frutos de paixões desordenadas, nos causam muitos sofrimentos na alma humana. Pois, sabe-se que todos os seres humanos são invejosos e sustentam rivalidades. Estes sentimentos são chamados de mecanismos de defesa do “eu” (identidade) – há outros ainda que não são indicados.

Estes no ser humano são normais e necessários. Porém, São Tiago, adverte que “ser normal” não quer dizer usar destes para justificar desiquilíbrios – paixões desordenadas. Antes, este apóstolo, ensina que se deve (re) conhecer as rivalidades, invejas e outras paixões, por vezes desordenadas, para se aproximar de Deus.

Somente por exte princípio se pode conhecer uma das características de Deus – a misericórdia. Assumindo as paixões e acolhendo-as, a partir de Deus, enquanto misericordioso, pode-se reordená-las. Neste ato de “assumir” existe duas ações: autoconhecimento (o indivíduo se conhece) e conhecimento de Deus (o indivíduo conhece uma das características de Deus – a misericórdia).

Para se obter sucesso no intento de ordenar as paixões, precisa-se dar atenção à palavras de Jesus, no evangelho de São Marcos. Este evangelista diz que os apóstolos, na escola de Jesus, não entenderam a lição do mestre, porque estavam discutindo para saber quem entre eles era o maior.

Jesus, Deus de misericórdia, ensina aos seus discípulos que quem quer ser o primeiro deve ser o último e aquele que serve. Claro, atenção para o início deste escrito: para poder ser o “maior” deve-se ter autoconhecimento e, para que este seja possível, precisa-se de um auto esvaziamento de sua ignorância. Pois, é nos vazios do ser humano e que se pode encher de compreensão de si, do outro, da natureza e de Deus. Em outras palavras, a liturgia deseja que o indivíduo tome posse de si mesmo para que possa por livre e espontânea vontade se aproximar daquele que o ama por primeiro – Deus.

Deus nos abençoe nesta tarefa de autoconhecimento – conhecimento de nossas emoções; que saibamos nos acolher assim como somos e entender que somente acolhendo nossas paixões desordenadas é que poderemos ser mais felizes, ordenando-as. Esta é a bênção de Deus para todos nós nesta semana. Tudo de bom. Deus abençoe sua família. Amém.