Tempo é o que me importa

Falta-me pouco para 60, mas não me falta tempo  para a vida. Estou me tornando uma sexygenária e agora meu capital é o tempo.

Olho ao redor e meus amigos, aqueles que eu escolhi, pois nem esses eu acumulo mais, são todos mais jovens e ainda estão lá embaixo na Curva da Felicidade, aquela que tem a forma de U.

Aliás, eles parecem tensos e eu chego a uma conclusão: já começaram e perceber que os happy hours escassearam, a noitadas estão ficando pra trás e o passado está virando risadas, isso nos raros encontros com os amigos.

Esses quarentões quando falam de hoje ou de amanhã, preocupam-se com cabelos escasseando ou branqueando, contas se multiplicando, os filhos emburrados, as aventuras que não encararam ou os shows que perderam.

Também passei por isso, mas agora com mais 20 o corpo dá sinais de indisposição, insônia, hérnia e muita impaciência com bobagens e sem esquecer o olhar gelado quando não gosto de algo. E se não fui a algum lugar foi pelo simples fato de que não quis.

Descobri que não invejo os homens (só o fato de eles fazerem xixi em pé), que digo não com maior intensidade e liguei o foda-se para as coisas que não importam. Mas esse é um foda-se interno, pois em público os palavrões não sabem sair da minha boca…. mas não digo o mesmo para o privado.

Sabe essa tal Curva da Felicidade, é a mais pura verdade, há um pico de felicidade aos 20 e depois ela cai para só se erguer lá pelos 50 e tantos. E é quando nos tornamos livres e se  antes a liberdade vinha das infinitas possibilidades, agora, a liberdade vem de uma infinita tranquilidade: não há mais o que provar a ninguém. Fiz o que poderia fazer de melhor  para criar os filhos ou não criá-los, para ser a mulher, para ser a amante, a funcionária, a filha, a amiga, todas as melhores possíveis. E o que foi, foi, e tudo ficou bem.

Estou em momento que apesar de todas as merdas cá estou e pensando bem nem foram tantas e não eram tão importantes quanto pareciam  e tudo o que era importante hoje, se não foi resolvido, resolvido está.

Ainda há um bocado de vida a viver. E não vou mais deixar ninguém me deixar infeliz,  pois meu bem maior é o tempo e o tempo é o senhor da razão.

Margaret Waterkemper