Atrasos e estrutura falha: os gargalos da CASAN em Nova Veneza

Município enfrenta sucessivos rompimentos de adutora, falta de pessoal, falta de interligação do novo reservatório e ausência de estrutura adequada

Os moradores de Nova Veneza têm convivido com sucessivas interrupções no fornecimento de água, especialmente nos bairros centrais e adjacentes. A origem dos problemas é conhecida: rompimentos recorrentes na principal adutora que abastece o reservatório central da cidade, no trecho entre o Centro e o bairro Mãe Luzia, ao longo das rodovias Lírio Rosso e José Spilere. O agravante é a ausência de uma adutora de reforço (redundância) para atender a área urbana, o que transforma qualquer rompimento em um evento crítico para o abastecimento de milhares de moradores.

Enquanto os transtornos se acumulam, o novo reservatório de 1,5 milhão de litros, construído com investimento de R$ 1,8 milhão, segue sem uso. Apesar de estar praticamente finalizado, o equipamento ainda não foi interligado à adutora que conduz a água da estação de tratamento em Criciúma, tampouco ao sistema que abastece a área central de Nova Veneza. 

Atrasos e estrutura falha: os gargalos da CASAN em Nova Veneza

Segundo apurado pelo Portal Veneza, os testes iniciais de enchimento do reservatório começaram de forma extremamente lenta: apenas 40 centímetros de água poderiam ser colocados por dia, por orientação técnica. No entanto, como o reservatório ainda não está interligado à adutora principal, o abastecimento está sendo feito por uma tubulação auxiliar de baixa vazão. Com isso, o nível de água tem subido em média 10 cm a cada dois dias, conforme registros fotográficos realizados entre os dias 7 e 9 de julho.

Atrasos e estrutura falha: os gargalos da CASAN em Nova Veneza

Diante dessa limitação, estima-se que o reservatório poderá levar até seis meses para atingir sua capacidade plena, apenas para finalizar os testes e ser efetivamente colocado em operação.

R$ 49,6 milhões em investimentos anunciados

Pelo contrato de programa assinado com a prefeitura de Nova Veneza em dezembro de 2019, a CASAN se comprometeu a investir aproximadamente R$ 40 milhões ao longo de 30 anos, valor que inclui a implantação de sistemas de esgotamento sanitário, melhorias na distribuição de água e obras complementares. Esse montante foi acrescido em 2020 por um convênio adicional de R$ 5,46 milhões, destinado a obras emergenciais de pavimentação, substituição de redes e realocação de tubulações, elevando os investimentos anunciados para R$ 45,46 milhões. Em 2024, a construção do novo reservatório de água tratada somou mais R$ 1,8 milhão, totalizando R$ 47,3 milhões já anunciados em aportes para o município.

Atrasos no cronograma

Os problemas atuais não são isolados. A situação em Nova Veneza revela atrasos no cronograma de investimentos da CASAN firmado em contrato de programa com o município. O documento, assinado em 2019 com vigência de 30 anos, estabeleceu uma série de metas baseadas no Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB), entre elas:

  • Início das obras do sistema de esgoto a partir de 2022/2023;
  • Entrega do novo reservatório e melhorias na distribuição de água até o 1º trimestre de 2025;
  • Execução escalonada de metas de cobertura e infraestrutura de abastecimento nos primeiros cinco anos do contrato.

Nenhuma dessas metas foi integralmente cumprida até julho de 2025.

A implantação do sistema de esgotamento sanitário, por exemplo, até hoje não saiu do papel: não há rede coletora instalada, definição do terreno onde a estação de tratamento será construída e muito menos movimentação de obras. Isso representa um atraso de pelo menos dois anos em relação ao que foi pactuado. Já o novo reservatório, embora fisicamente concluído, está inoperante por falta de interligação com a adutora principal e pode demorar meses para ser preenchido. Ambas as situações demonstram que o cronograma contratual não está sendo cumprido conforme o estabelecido.

A ausência de relatórios atualizados da ARIS (agência reguladora) e de dados sobre esgotamento no SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) até 2024 também confirmam que nenhuma meta física relacionada ao esgoto foi alcançada até o momento.

Adutora sem reforço e projeto parado

O trecho mais vulnerável da rede está localizado entre o centro e o bairro Mãe Luzia, justamente na ligação principal da adutora com o reservatório central. Esse segmento, instalado há décadas, passa por áreas de tráfego pesado nas rodovias Lírio Rosso e José Spilere, o que acentua a deterioração das tubulações. Segundo informações obtidas pelo Portal Veneza, não existe atualmente nenhuma adutora de reforço capaz de assumir o abastecimento em caso de rompimento na linha principal, o que torna o sistema altamente vulnerável.

Para contornar a situação, há um projeto de construção de uma nova adutora, que partiria da linha que abastece o distrito de Caravaggio, e seria interligada ao sistema de Nova Veneza, passando pela rodovia José Spilere. No entanto, conforme apurado, o projeto está parado devido a entraves com a Secretaria de Estado da Infraestrutura e Mobilidade (SIE) — órgão responsável pela rodovia. A negativa da SIE em liberar a obra tem impedido o avanço do plano, comprometendo o reforço no abastecimento da cidade.

Equipe de campo reduzida

Atrasos e estrutura falha: os gargalos da CASAN em Nova Veneza

A situação se agrava diante da limitação estrutural da agência local da CASAN em Nova Veneza. Conforme apurado, apenas três servidores atuam no trabalho externo da unidade de Nova Veneza, encarregados de atender todo o território municipal atendido pela estatal. Com uma equipe reduzida e sobrecarregada, o tempo de resposta aos rompimentos e vazamentos têm sido incompatíveis com a urgência dos casos, principalmente quando ocorrem de forma simultânea.

Os reflexos da situação são sentidos diariamente por moradores, comerciantes e turistas. Em algumas regiões, os rompimentos já causaram interrupções de vários dias, causando sérios transtornos e afetando a qualidade de vida de centenas de famílias, além de prejuízos para comerciantes.

O Portal Veneza questionou a CASAN sobre prazos para interligação do reservatório, reforço da equipe, andamento do projeto da nova adutora, implantação do sistema de esgoto e aguarda o posicionamento da empresa.

Para tratar sobre os problemas da CASAN em Nova Veneza, a prefeita Ângela Ghislandi deve ir até Florianópolis na próxima semana para buscar uma solução junto com à diretoria da empresa.