O ateísmo, a sociedade e o preconceito

20/09/2015 00:19

A sociedade vive em constante expansão, buscando adaptar-se, adequar-se às novas realidades emergentes. A atualidade exige discussões pontuais como, por exemplo, a homoafetividade, a igualdade racial, a tolerância religiosa e tantos outros paradigmas da modernidade.

Embora o cenário mundial trilhe um percurso para a naturalização do respeito às diversidades, ainda são muitas as manifestações preconceituosas acerca do que algumas pessoas julgam ser, de certa forma, diferente. Negros, homoafetivos ou pessoas com algum tipo de deficiência travam uma batalha diária contra o preconceito.

Há também os convictos em uma crença que vai contra todos os princípios “morais” de nossa sociedade – a crença de que DEUS não existe. Estes sujeitos – os “sem religião, sem fé em Deus”, os ateus – experimentam diariamente um preconceito que não se mostra insignificante, muito pelo contrario, ele de fato existe e faz parte da vida destes indivíduos que assumem em meio à sociedade não ter uma crença religiosa estabelecida.

Segundo dados do último censo do IBGE de 2010, apenas uma pequena parte da população declara não acreditar em Deus, ou não ter uma religião pré-estabelecida, restando um grande número, da população que se declara crer em Deus e seguir de fato uma religião.

Com os dados acima, talvez possamos supor que existe sim, a dificuldade de muitos em assumirem uma postura diante do dilema – Crer em Deus – quando este é um assunto que provoca tanta polêmica e indignação. É um tanto quanto considerável que a falta de conhecimento ou as ideias equivocadas e distorcidas acerca do ateísmo, resultem nesta dificuldade.

Outro aspecto que também pode ser levado em consideração como resposta a resistência no que se refere a “não ter uma crença em Deus”, é a organização cultural. Nós ainda vivemos em meio a uma cultura que é predominantemente religiosa, como pode ser visto na pesquisa acima citada. Afinal, “não crer em Deus” mexe em toda uma linha de pensamento culturalmente instaurada e que vem sendo repassada de geração a geração. Ou seja, o sujeito ateu vai contra toda verdade cultural pré-estabelecida na sociedade.

O ateu é sempre visto como um sujeito que provoca um mal-estar, pois é culturalmente identificado como aquele que transgride as regras e as normas instituídas pela sociedade do místico e do divino. Mas, nem sempre na prática é isto que acontece de fato, pois a maioria dos indivíduos que se declaram ateus, na verdade são pessoas com uma bagagem de conhecimento que lhe propicia um olhar crítico acerca dos fenômenos da sociedade e suas correlações religiosas.

Alguns filósofos, por verificarem a necessidade de pesquisa e discussão sobre o tema, construíram teorias que ainda hoje geram muita polêmica, como por exemplo, o ponto de vista do pensador alemão Friedrich Nietzsche. Ele nos traz a proposta de viver livre de explicações e justificativas religiosas, ou seja, viver uma vida que não seja intermediada pelo pecado, ou por uma submissão religiosa tornando-nos capazes de responder pelos nossos próprios atos.

Assim como Nietzsche, proferir a fé no homem e não em Deus, provoca polêmica, gera dúvidas, causa desconfiança e resistência contra estes indivíduos.

Ser ateu provoca raiva, desconforto e talvez o medo, medo do desconhecido. A figura do ateu foi literalmente “demonizada” – negar a Deus é sinônimo de afeição ao mal, ao impróprio.

Mas, afinal de contas, quem detém a verdade absoluta? O ateu ou o crente? De que tipo de verdade estamos falando?

Parece-me um tanto quanto complexo pensar em uma verdade absoluta para um fenômeno como este que vem sendo discutido ao longo deste texto. Porém, será que realmente existe uma verdade absoluta? Não seria muito mais simples buscar a compreensão do significado que cada indivíduo dá a sua vida, seja ela por meios religiosos ou científicos?

Deixar nossos preconceitos em suspenso por alguns instantes e procurar compreender o porquê cada indivíduo pensa de forma distinta do outro.  Por meio desta compreensão, entender que muitas realidades ou verdades, podem ser distintas, sem que precisem ser desrespeitadas.

Afinal, se não existe uma verdade absoluta, seria mesmo errado se declarar ateu?