Artigo: Motociclistas Malucos e Formigas

04/10/2013 13:09

Era aniversário do Pedrosa, Moto GP de Aragon, último domingo, e a Honda mandou o novato Marc Marquez, conhecido como “o formiga atômica”, ficar atrás. O Marquez obedeceu, mas tanto ralou na roda traseira do Pedrosa que o forçou ao erro e conquistou sua sexta vitória na temporada. O fato (vídeo) é o que feito não muda mais, uma das poucas regras invioláveis conhecida, senão a única, o tempo não volta para mudar as coisas. Resta-nos a exclusiva capacidade humana de análise conceitual, inexistente mesmo em outros primatas superiores e fundamento essencial da superioridade evolutiva do macaco-pelado-do-chão, nós mesmos, bichos destacados por vivermos em sociedade, assim como insetos que já as têm há uns 60 milhões de anos.

No mundo das formigas todo mundo trabalha para a rainha, única a fazer sexo, comer alimentos altamente calóricos e proteicos e ficar nos aposentos mais protegidos. Formigas seriam marxistas, não fossem escravocratas, vez que a rainha, na realidade, é a escrava reprodutora. Mister observar que, sem tribunais, formigas julgam e executam as penas imediatamente a despeito de qualquer análise. Meteu o pé na parte do formigueiro em que não devia, morreu.

Voltando à corrida de moto, faço as seguintes perguntas aos compreensivos e pacientes leitores: Os fins justificam os meios? Ganhar mais uma corrida de moto GP, aproximando-se de ser campeão já na primeira temporada justifica atitudes agressivas contra o colega de equipe? Combater uma tirania, a ordem de aliviar para o aniversariante, justifica a ação antiética de derrubar o colega? Onde se localiza dentro de nós o que nos faz conceber a valoração correta em comparações assim? A minha injustiça corrige uma injustiça maior? Certamente não na opinião do outro injustiçado.

Talvez o garoto tenha errado. Talvez venha a ser o maior campeão da história do motociclismo. Talvez amadureça e conclua que conceitos crus do id, portanto IDiotas, no mínimo IDiossincráticos, não podem ser desnudos publicamente. Egoísmo, psicanalítica e socialmente, nem sempre é perda. Esse é o pecado dos ideais, mais evidentes na juventude: entregar-se demasiadamente a valores intrínsecos a ponto de derrubar o próximo ou o distante. Isso efetivamente leva à destruição da capacidade associativa, mantendo as relações entre as pessoas fundadas em tirania e escravidão, como nos formigueiros.

Existe também a hipótese de o Marc Marquez nunca envelhecer, como o Min. Marco Aurélio de Mello, mas apesar dessa comum maluquice dos dois, motociclismo, direito e sociedade evoluem com eles. Eles não se comportam como formigas, pelo menos nas corridas e nos tribunais.