Psicóloga da rede municipal dá dicas para manter a saúde mental durante isolamento 

 

Por Cris Freitas

A situação inusitada dos últimos dias em relação ao enfrentamento do coronavírus modificou a rotina da maioria dos neovenezianos. Trabalhadores fazendo quarentena, home office, o afastamento dos idosos para proteção e, além de tudo isso, o excesso de informações pela internet, podem gerar efeitos psicológicos negativos na população.

A psicóloga da rede municipal de saúde, Marilda Ghellere, continua atendendo online cerca de 6 a 8 pacientes por dia. A profissional irá dar algumas dicas de como enfrentar esse momento de desdobramento da crise.

“Nós no Ocidente não estamos acostumados a enfrentar grandes catástrofes, epidemias e muito menos uma pandemia. A possibilidade da perda da saúde e perda de pessoas, provoca tensão e angústia em algum grau e implica também em uma perturbação psicossocial que pode ultrapassar a capacidade de enfrentamento da população afetada. Portanto, é esperado um aumento da incidência de transtornos psíquicos nesta população exposta ao evento, e muito provável que boa parte da população venha sofrer alguma manifestação psicológica. É importante ressaltar que, nem todos as manifestações podem ser consideradas doenças, mas reações situacionais diante de uma situação totalmente fora do comum. Quem já esta passando por um transtorno psíquico tende ter um aumento significativo desse sofrimento e que tem uma vida  adaptada também poderá sentir em algum grau esse desconforto”, revelou.

De acordo com a psicóloga, as pessoas precisam se sentir no controle e, por isso, correm para o supermercado e farmácias para terem uma sensação de conforto. “As pessoas correm aos supermercados para encher os carrinhos ou as farmácias na busca por essa sensação de tranquilidade. A recomendação é que não façam isso. Naturalmente, muitas pessoas comprando ao mesmo tempo,  nem dará tempo de reporem a mercadoria e as prateleiras vazias darão a sensação de falta, e até mesmo causar pânico nas pessoas, usem o bom senso não há  necessidade de estoques gigantescos. ”

Conhecer a doença

Marilda dá dicas de como filtrar as informações e conhecer a doença. “É muito importante conhecer a doença, formas de contágio e o que está acontecendo na cidade, no Estado, Brasil e mundo. É preciso filtrar essas informações, pois o WhatsApp e todas as mídias sociais estão trazendo uma enxurrada de conteúdo, e a maioria incorreta. Algumas mostram descaso com a pandemia e  outras notícias causam pânico nas pessoas.

É adequado reservarmos  reservar dois horários durante o dia para se atualização, escolhendo meios de comunicação confiáveis para saber as notícias. Nada de ficar o dia inteiro de ficar buscando informações, repassando vídeos de tragédias e caos que só incentivam ao pânico, e também  ao uso inadequado de medicamentos e formas de higienização incorretas”.

Cuidado com as crianças

Um cuidado especial com as crianças, elas precisam saber o que está acontecendo em uma linguagem adequada para cada idade. “Crianças têm um ‘radar’ e percebem a ansiedade dos pais e podem se tornar mais exigentes de atenção e cuidado. É necessário explicar porque todos estão em casa, ensinar as medidas necessárias de higienização para evitar a contaminação, pois podem ser os vetores da doença e transmitir as outras pessoas mesmo sem apresentar sintomas.

As famílias com crianças devem estabelecer uma rotina com a hora de acordar, de refeições, de brincar, de estudar, de higienização, além de brincadeiras e outras atividades criativas, sem sobrecarregar. Com eles podem usar a criatividade como o plantio de feijão no algodão para exercitar o cuidado, e a paciência. E no final do dia, propor algo mais calmo como uma música tranquila, leituras como forma de higienização para a hora do sono”.

Idosos em isolamento social

Com os nossos idosos, é muito importante o isolamento social evitando as visitas físicas. No entanto toda comunicação virtual é bem vinda. Boa parte dos avós tem as mídias sociais e os smartphones, “os familiares devem usar essas ferramentas de forma positivas com chamadas telefônicas, chamadas de vídeo, postando nos grupos de famílias conteúdos positivos e de esperança.  Vocês poderão estar presentes todos os dias, mostrando cuidado e preocupação,  isso é importante na manutenção dos laços afetivos. Alguns idosos têm maior dificuldade para entender, sendo preciso  explicar várias vezes a mesma situação, sempre com paciência e tolerância. Eles precisam entender que não estamos nos afastando deles, mas estamos protegendo-os porque os amamos”.

Trabalhadores em geral

A psicóloga alerta para as pessoas em geral que, estão trabalhando em casa, home office, devem estabelecer uma rotina. “Nada de ficar jogado no sofá de pijama, ao levantar devem fazer a higiene pessoal, se arrumarem para o trabalho, façam as pausas para as refeições, e no tempo adequado foquem no trabalho.

Quem não estiver trabalhando deve se ocupar com tarefas da casa, alternando entre outras atividades que lhe dão prazer, como leitura, artesanato etc. Devem ainda incluir exercícios físicos evitando o sedentarismo. Também deve ser evitado  ficar no computador e se estender em filmes e séries até altas horas.

O ideal é escolher alguns horários e assistir seus programas favoritos, sempre respeitando o horário de sono que é fundamental para a manutenção da saúde, assim como, manter uma alimentação equilibrada. Hábitos saudáveis são importantes para equilíbrio do corpo e mente”.

Exercitar a fé

Um fator muito importante também é exercitar a fé, cada um na sua crença ou religião. “Precisamos exercitar a fé, a confiança, o positivismo, a esperança tudo isso corrobora para uma boa saúde mental.

Diante desta situação vem a tona o medo e a ansiedade, elevando o nível do estresse, estudos comprovam que indivíduos com uma maior vivência religiosa ou espiritual têm uma maior capacidade de lidar com o estresse emocional, então, pratiquem  a fé dentro do que acreditam”.

Drogas licitas e ilícitas

Marilda afirma que é preciso ter cuidado com o uso de substâncias licitas ou ilícitas. Muito cuidado para não abusar de bebidas alcoólicas, cigarros e algumas medicações. Algumas pessoas podem ter dificuldade para lidar com o encontro consigo mesmo ou com a solidão. Busquem algo saudável.

Procurem conversar com os amigos e familiares pela internet, aprendam a fazer algo novo.  Esse é um período excelente para agregar novos conhecimentos e quando puderem, compartilhem com as pessoas que amam”.

Conflitos familiares

Neste período de isolamento social é muito provável que no convívio intensivo surjam alguns conflitos familiares. A psicóloga Marilda recomenda que “seja exercitado a empatia, compreensão, paciência e tolerância,  sem julgamento. É um período que pode ser utilizado para ampliar o diálogo familiar, aprofundar ou até mesmo reconstruir  os  vínculos afetivos que ficaram enfraquecidos no pouco tempo disponível do cotidiano. “

Ocupar o tempo

Por fim, sabemos que o ser humano tem a necessidade de pertencimento a um grupo e quando ele fica isolado, tem medo de ficar por fora de tudo o que está acontecendo. “Vamos aproveitar para o autoconhecimento, para agregar novos conhecimentos, são tantos cursos gratuitos na internet de várias temáticas.

E não pensem no isolamento como algo negativo, podemos visualizar esse isolamento social  como uma contribuição  para a saúde de todos,  e ainda mais solidários para os pertencentes ao grupo de risco. Ocupe e cultive a mente com bons pensamentos, lembrem-se do velho ditado, mente sã, corpo são.