Por que as ações sobem se a Economia está em queda?

Um dos fatores que leva muitas pessoas a investir em ações  é a sua correlação positiva com a Economia. Não é uma novidade: historicamente as ações tendem a valorizar de acordo com o desempenho econômico. Ou seja, quando a Economia de um país está subindo, é natural que as suas empresas também se beneficiem desse movimento e que isso se reflita no valor das suas ações.

Logo, em tempos de expansão econômica, as ações são uma boa forma de os investidores garantirem a apreciação do seu capital. É um dos motivos que levam vários usuários a se cadastrarem em corretoras como a eToro (inclusive brasileiros), que registrou um súbito aumento na sua procura desde o início da pandemia.

Mas será que isso funciona sempre assim? A dúvida é pertinente em uma altura em que a Economia global passa por um dos cenários mais incertos desde que há registro. No Brasil, o Secretário Especial do Ministério da Economia já admitiu que a taxa de desemprego pode duplicar devido à Covid-19, enquanto nos Estados Unidos já está ao nível mais alto desde a Grande Depressão.

Os cidadãos estão perdendo o emprego e, por isso, têm menos dinheiro disponível para gastar, o que fragiliza a Economia. Isso pode levar o mundo a entrar em um ciclo vicioso, já que, não havendo dinheiro para gastar, as empresas também vão receber cada vez menos e terão de dispensar cada vez mais trabalhadores. Ou seja, como vimos, estamos perante um cenário incerto e desolador.

Mas então por que as ações estão subindo?

Quase todos os mercados financeiros foram fortemente afetados no início da crise provocada pela Covid-19. Como exemplo, o índice S&P 500, assim como a maioria dos índices de ações em todo o mundo, sofreu a maior queda de que há registro. No entanto, desde então, já subiu 31%. Enquanto a Economia continua afundando, o mercado de ações sobe. Por quê?

De acordo com Peter Cohan, autor de vários livros sobre o mercado de ações e colunista da Forbes, a explicação é na realidade bastante óbvia: é que, embora existam muitas pessoas interessadas em vender ações, simplesmente há muito mais querendo comprar. Isso é particularmente relevante no caso das grandes empresas tecnológicas que conseguiram valorizar no meio da incerteza trazida pela Covid-19.

Empresas como Amazon, Microsoft, Netflix, Alphabet, Facebook ou Zoom, entre outras, estão se aproveitando dessa nova realidade, somando ganhos com isso. De fato não deixamos de ser humanos e de querer realizar certas necessidades e rotinas que já tínhamos, como assistir a filmes, falar com pessoas ou fazer compras. A diferença é que agora fazemos isso de forma digital.

Por isso os negócios dessas empresas não estão sendo negativamente afetados. Pelo contrário, estão assistindo a um dos períodos de maior aceleração que já viram, pois as pessoas estão a precisando deles de formas que nunca pensaram. Isso é, ao mesmo tempo, uma oportunidade única, até para investidores, que percebem que essas empresas serão capazes de adquirir porções de negócio que até agora não tinham.

Exemplo óbvio? A Amazon. Muitas pessoas podiam já fazer compras nessa ou em outra loja online, mas agora estão comprando muitas outras coisas que nunca antes pensaram em comprar através de canais digitais. O ser humano é um ser de hábitos. Uma vez habituado a essa nova realidade, por que mudar?

A transformação digital da Economia, de um dia para outro, deixou de ser um requisito e passou a ser uma obrigação.

De uma forma ou de outra as empresas estão obrigadas a recorrer a novas ferramentas de trabalho e a encontrar novos modelos de negócio. Isso traz dois efeitos: por um lado, acelera os negócios das empresas que oferecerem soluções de trabalho à distância, como é o caso do Zoom, Slack ou outras; por outro, participam de um movimento global em que as empresas que melhor se adaptarem ao contexto digital sairão recompensadas com mais clientes, novos investidores e, em consequência, um maior crescimento.

Ou seja, o crescimento não é generalizado a todo o mercado das ações. Empresas ligadas ao turismo, como as de aviação, por exemplo, estão sofrendo muito com essa crise. No entanto o setor tecnológico tem um peso cada vez maior nos principais índices bolsistas. Esse setor já está crescendo e, uma vez que a Economia global recupere o seu ritmo, terá margem para colher ainda mais frutos dessa alteração de paradigma.

Em sentido contrário, os setores tradicionais têm um desafio maior. Muitos deles, se não forem capazes de se reinventar rapidamente, sofrem sérios riscos de sobrevivência. Em um cenário de tamanha incerteza, só o tempo dirá o que vai acontecer. Mas parece certa a ideia de que vingará a lei do mais forte. Mais do que nunca.