O idoso e a perda de papéis

É bacana iniciarmos nossa reflexão acerca deste tema, lembrando que o ser humano passa por várias etapas do desenvolvimento ao longo da vida, sendo a fase idosa uma destas etapas. Com suas características e particularidades, este período da vida traz consigo questões muito singulares de cada sujeito diante de sua realidade de vida, e uma delas, é a perda de papéis.

Te convido a fazer uma breve retrospectiva comigo: Na fase infantil, logo que nasce, o bebê humano depende dos seus responsáveis para sobreviver. Atividades simples como comer, beber, falar, andar, ouvir, são aprendidas por meio de um mediador – um cuidador, até que a criança se desenvolva e consiga fazer por si só. Na fase da adolescência, ocorrem modificações bastante significativas, tendo em vista que o corpo de criança passa por um processo de transformação, passando a se configurar em um corpo de adulto. Com isso, o adolescente necessita adaptar-se neste novo corpo que surge, além das modificações hormonais e psicológicas (conversamos sobre isso em outro artigo, disponível através do link: https://www.portalveneza.com.br/nem-crianca-nem-adulto-adolescente/).

Já na fase adulta, geralmente essas transições ficam mais amenizadas, já que as modificações mais intensas ocorreram na adolescência. O que acaba ocorrendo são as modificações estéticas e psicológicas diante das vivências de cada pessoa. Quando é chegada a fase idosa, algumas transformações estão ocorrendo: a disposição física já não é mais a mesma, os pensamentos já não se articulam da mesma forma, algumas pessoas importantes da nossa vida já não estão mais por aqui, os filhos já cresceram, a aposentadoria bate à porta. Mas como se encontrar no meio dessas modificações?

Alguns idosos, por alguma impossibilidade, necessitam do auxílio de outra pessoa para cuidá-lo. Tornam-se dependentes por algum acometimento de saúde, quando já estavam habituados com sua rotina de vida independente (trabalhar, se divertir, sair com os amigos/familiares…), sendo que isso pode causar certa estranheza, perante da dependência de outra pessoa para fazer aquilo que ele mesmo fazia por si, até pouco tempo atrás.

É bacana lembrarmos dos papéis desempenhados na vida de cada um. Você sabe o que é papel? É importante esclarecermos isto!

Papel é a função que “eu” desempenho em determinado lugar. Por exemplo, no papel de professor eu ensino, no papel de pai eu educo, no papel de médico eu atendo os pacientes, no papel de esposo eu sou companheiro, enfim…  São variados tipos de papéis que são executados ao longo da vida.

Dito isso, relembra-se que esses idosos perderam papéis durante suas vidas: podemos pensar no papel de irmão, de cônjuge (quando se é viúvo(a), papel de pais (e aí podemos citar a síndrome do ninho vazio, quando os filhos saem de casa), perda do corpo que se tinha (da disposição, da saúde, da aparência), entre tantos outros papéis que variam de acordo com a dinâmica de vida de cada sujeito, diante de cada realidade.

É bastante comum, ao idoso precisar de um acompanhante, os familiares contratarem alguém por possuírem uma rotina de vida que não os permite parar para ficar com o idoso, mas vale a pena ressaltar que além do cuidado, é importante que a família esteja e se faça presente nessa etapa da vida, pois ao mesmo passo que se perdem muitos papeis, a sensação de abandono pode ser frequente.

Quando o sofrimento do idoso é intenso, é interessante a procura de psicoterapia a fim de que possam ser construídos novos papeis de vida, e ele busque lidar com suas questões de forma tranquila, o que é um aprendizado bastante significativo. A psicologia possui ferramentas para auxiliar nesse processo e ajudar no sofrimento do idoso. Na clínica, é comum nos depararmos com queixas como depressão, tristeza profunda, lutos por perdas de pessoas importantes da vida do idoso, desânimo entre outros.  O profissional acaba por atuar com isso de acordo com a sua demanda particular, ao lembrar que cada ser humano é único e singular.

Podemos pensar ainda, em alternativas de grupo como: trabalhos de grupos terapêuticos, assim como grupos recreativos, como: os chamados “clubes de mães”, grupos de terceira idade, visto que geralmente são programas municipais que visam a qualidade de vida do idoso, promovendo encontros, bailes, e isso pode trazer a sensação de pertencer a um grupo, gera maior convívio social, recupera-se alguns papéis que ficaram perdidos em algum momento da vida e podendo assim, gerar bem-estar.

Todo indivíduo merece respeito, independente de sua idade. O desenvolvimento humano deve ser respeitado diante suas modificações naturais da vida. Cuide-se. Cuide do outro. E acima de tudo, respeite.

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