A faca que mudou a história do Brasil

Um grande abraço para você que acredita ter visto tudo na vida, pois a história que vou contar a vocês se trata da história da minha vida. Nasci no Brasil em uma cidade em que não esperava ter um morador que mudaria a história do país. Falo isso porque meus irmãos tiveram destinos muito diferentes do meu.

Meu nascimento foi com muito sofrimento, me criei na base de pancada em um calorão de doer. As coisas foram melhorando quando comecei a viajar e, por fim, parar em um supermercado na cidade de Juiz de Fora (MG).

Meu destino era acabar parando nas mãos de um açougueiro fatiando carne ou, talvez, nas mãos de uma dona de casa picando chuchu e cenoura para o jantar da família. Ainda, quem sabe, simplesmente sendo manuseada por um pescador tirando escamas de peixes. Esse foi o destino dos meus irmãos, mas, infelizmente, não foi o meu. Meu destino foi o de parar nas mãos de alguém que parecia ter muita raiva de alguma coisa, pois ele me apertava forte e suas mãos suavam muito. Até pensei que seria dada de presente para alguém, por estar enrolada o tempo todo em um jornal igual papel para presente.

Era de tarde em Minas Gerais, uma quinta-feira de sol, dia ótimo para picar aquela picanha em um churrasco regrado a cerveja e música mineira. Mas isso não iria acontecer. Eu fui enfiada dentro de uma pessoa. E como se não bastasse, essa pessoa era um candidato à presidência do Brasil.

Confesso que, quando me dei por si, eu estava inundada de sangue envolta em um plástico verde. Fiquei ali por muito tempo e só fui entender que feri alguém muito importante quando me desenrolaram do plástico e tiraram muitas fotos de mim de vários ângulos e perfis. Por alguns instantes, me imaginei uma atriz de Hollywood no filme Pânico 2.

De alguma forma, eu sei que contribuí para mudar o destino desta nação que tanto clama por um governo honesto. Alguns de minha família disseram que era para eu ter perfurado bem fundo para, então, matar o candidato, pois falaram que ele prega a violência e que o Brasil será um caos se ele governar. Outros falaram que era para eu ter perdido o fio e me recusado a ser introduzida no indivíduo, pois o candidato é o cara que resolverá o problema do Brasil. Só ele, com pulso firme, conseguirá combater a violência em nosso país. Para ambos os lados, falei que eu nem sabia o que estava fazendo, pois estava envolta em um jornal.

Penso que, independentemente de eu ter feito bem ou mal, o candidato é mais um cidadão vítima da violência brasileira. Quantas donas de casa? Quantos jovens? Quantas pessoas que a mídia não dá tanto ênfase? Quantos não foram vítimas por facas ou por armas? Acredito que a rivalidade política deve ir até certo ponto. Não, ele não deveria ter morrido, como também o seu adversário não merece algo assim. Em que ponto chegará a democracia se as pessoas esfaquearem os candidatos que não gostam ao invés de votar em quem gostam? Você não aprova um candidato? Apenas não vote nele, meu amigo! Não precisa provocar seu amigo ou sua família, simplesmente respeite aqueles que vivem na mesma merda de país que você, mas que têm uma opinião diferente da sua.

Desculpe o desabafo, é que eu não queria virar uma faca famosa dessa forma. Sou um objeto cortante e que faço um excelente trabalho quando manuseada por pessoas corretas, não por humanos piores do que animais. Mas, de qualquer forma, mudei a história deste país.