Nossa história: O que nos conta a chaminé?

Por Tadeu Spilere – Nossa gente

Estrutura representa muito para a história de Nova Veneza e para a família Bortoluzzi

Para as sociedades modernas, resguardar antigas estruturas faz parte da preservação da própria história, da identidade, e mantém vivo o sentido de pertencimento de determinado povo. Países do Velho Mundo, por exemplo, não poupam esforços para preservar monumentos que carregam muito mais do que elementos físicos, agregam significados importantes para a comunidade.

Em Nova Veneza não é diferente. Alguns locais são pontos de referência para turistas que buscam conhecer o município, mas, principalmente, para os próprios venezianos, que percebem nestas obras a própria história, a trajetória das pessoas que colaboraram para a “construção” da cidade. As Casas de Pedra são um exemplo, pois contam muito sobre o cotidiano e a vida familiar dos imigrantes. Já a chaminé, que se destaca no centro do município, guarda história importante referente ao desenvolvimento econômico da localidade e também da região.

Na primeira metade do século XX, os irmãos Bortoluzzi (Giuseppe, Giovanni e Humberto), filhos dos imigrantes Bortolo Bortoluzzi e Antonia de March, construíram o que se pode considerar um “império” econômico, tendo em vista a conjuntura da época. Com muita visão empreendedora trazida do país de origem, fizeram de Nova Veneza, que ainda pertencia à Criciúma, o principal centro comercial do Sul naquele tempo.

A empresa inicialmente chamada Bortoluzzi e Irmãos e posteriormente intitulada Indústria e Comércio Bortoluzzi S.A., tinha como referência a casa comercial localizada onde hoje está o restaurante Casa do Chico. E próximo à chaminé ficava a fábrica de produtos suínos, indústria que se destacava no cenário daquele tempo.

Enquanto a fábrica produzia, principalmente, salame e banha de porco, que tinham como destino tanto cidades do país quanto do exterior, o comércio oferecia uma grande variedade de produtos, como alimentos, tecidos, calçados e armamentos de caça.
Até a década de 1960, a empresa se desenvolveu, criou filiais e uma grande rede de clientes e fornecedores. Os irmãos investiram e compraram muitas terras em Nova Veneza e em outras cidades. Os descendentes herdaram o patrimônio. Muitos terrenos, inclusive, foram doados para a construção de instituições importantes no município.

As atividades foram encerradas da década de 1960 e a estrutura da fábrica foi demolida anos depois. A chaminé, porém, permanece como testemunha desta história.
Para os descendentes César e Susan Bortoluzzi, muitas mudanças influenciaram para o fim dos trabalhos. De acordo com eles, os filhos de Giuseppe, Giovanni e Humberto foram incentivados a estudar e, diante disso, buscaram outros caminhos. Muitos, inclusive, foram para outras regiões. Além disso, segundo César e Susan, as mudanças conjunturais também fizeram a diferença, pois o contexto econômico sofreu alterações, surgiram concorrentes fortes, entre outros fatores.

Na memória dos conterrâneos

Os mais antigos lembram da relação com os empreendimentos dos Bortoluzzi em Nova Veneza

A relação dos colonos de Nova Veneza e de outros lugares, principalmente da região serrana, era muito forte com os empreendimentos dos Bortoluzzi. Para a fábrica, os criadores forneciam os suínos, e no comércio buscavam produtos necessários à sobrevivência da família.

O senhor João Ghislandi conta que o pai, Bruno Ghislandi, criava e vendia porcos, além de fazer as compras necessárias na casa comercial. “Eles iam anotando tudo no caderno e no final do ano faziam o acerto. Era uma espécie de troca”, explica. O antigo caderno de contas, exposto na Casa do Chico, comprova o relato de João.

De acordo com o senhor Ângelo Bortolotto, que também forneceu suínos aos Bortoluzzi, a fábrica era bastante desenvolvida, com os principais equipamentos da época. “Eles faziam até as latas em que a banha era colocada. Faziam todos os procedimentos, desde o abate do porco”, lembra. “A chaminé foi mantida como uma marca daquela indústria, assim como as Casas de Pedra lembram a vida dos imigrantes”, completa Bortolotto.

Aqueles que viveram o período e tiveram contato com esta história, reconhecem a importância da família Bortoluzzi, assim como tantas outras que colaboraram na formação econômica e cultural de Nova Veneza. As gerações mais novas precisam entender que estruturas como a chaminé agregam muito mais do que tijolos, carregam histórias familiares, trajetórias de indivíduos.

 

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