Migração e xenofobia: o que temos a ver?

Por Tadeu Spilere/ Nossa Gente

A crise migratória é, sem dúvida, o principal assunto na geopolítica atual e certamente estará presente nas próximas provas de vestibular e concursos, já que é um tema que deve ser analisado com muito cuidado, tendo em vista sua complexidade e importância. Novos desdobramentos surgem a cada dia enquanto a União Europeia busca saídas. Porém, muitas medidas preocupam pelo claro caráter xenófobo.

Com o crescimento do conservadorismo e da ultradireita em meio à grave crise que acomete a Europa, a xenofobia, tanto de Estado quando da população, ganha força. A Inglaterra, por exemplo, criminalizou a imigração. Medida um tanto quanto nazista. Ou seja, na Inglaterra é crime, inclusive, alugar imóvel ou empregar imigrantes. A Itália, diante da Crise do Mediterrâneo, diminuiu sua área de resgate em alto mar, o que resultou no crescimento considerável de mortes.

Bom, primeiramente é preciso entender que a busca por melhores condições de vida é um princípio humano. Não é à toa que fluxos migratórios não são poucos em nossa história. Graves situações econômicas, falta de segurança e instabilidade política são motivos que levam pessoas a migrarem junto com seus familiares.

Neste momento, não há como apontar um motivo apenas, já que são países e regiões com situações diferentes. O que motiva um haitiano a deixar seu país não é o mesmo que motiva um sírio, por exemplo. Pense você estar com sua família em um país como a Síria, que vive uma guerra civil, que o governo de Bashar al-Assad é aliado do grupo terrorista Hezbollah e a oposição se apoia na força do Estado Islâmico. Ou no Haiti, um dos países mais pobres do mundo, onde não há a mínima condição de uma vida digna. Portanto, é evidente que o foco do problema está na instabilidade desses países e não na Europa. Instabilidade, diga-se de passagem, que tem grande participação das potências mundiais.

Bom, este é um assunto que renderia muito texto, mas quero me ater à reflexão proposta no título: o que temos a ver? O preconceito é condenável em qualquer situação, mas perceber o crescimento da xenofobia em um país formado por imigrantes é algo que transcende a imbecilidade. Pior ainda, perceber tais manifestações em comunidades como a nossa, de descendentes de italianos, que tanto exaltam seus imigrantes, é algo incompreensível.

Mesmo que em contextos distintos, os imigrantes do final do século XIV e início do XX também deixaram condições precárias em busca de uma vida nova no Brasil. Portanto, mais uma vez nossa própria história nos ajuda na compreensão do presente. Além disso, é preciso ter o mínimo de compreensão da realidade.

Ouvir comentários que são frequentes como, por exemplo, “eles vão tirar nossos empregos” ou “eles vão trazer doenças” é constrangedor, já que qualquer estudo básico demonstra que estas teorias não têm nada a ver com a realidade.

Irônico também perceber que muitos desses descendentes criticam medidas dos governos que buscam oferecer condições aos imigrantes de hoje, facilitando o acesso ao trabalho, à moradia, à legalidade. Nem se quer sabem o quanto os imigrantes europeus foram apoiados pelo governo brasileiro quando vieram para cá, principalmente com a oferta de terras.

Portanto, respeitar essas pessoas, além de uma questão humana, é questão de consciência, de conhecimento, de entendimento. Testemunhar manifestações preconceituosas no Brasil e em outras partes do mundo é algo que decepciona. Há alguns dias um badalado político brasileiro, em mais um de seus delírios recheados de imbecilidade, declarou que os imigrantes são a “escória do mundo”. Este fato é bastante emblemático quando percebemos a crescente xenofobia de Estado, fomentada por grupos políticos que são, eles sim, a “escória do mundo”.
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