Marcos Alexandre Margotti Izé: Um estranho admirador

Um cigarro após o outro, Bruna passava seu tempo ali, de pé ouvindo a musica tocar. Com sua simples saia e sua camisa clara que denunciava as belas curvas de seu corpo, permanecia imersa em seus pensamentos enquanto bebia algo qualquer.

Nem o próprio calor de dezembro incomodava aquela bela jovem que de tempos em tempos balbuciava algo sobre a musica que tocava enquanto sua boca enchia-se com a cerveja que a sua mão estava. Bruna era visitante do local, que oferecia semanalmente musica ao ar livre, aos amantes de rock clássico e jazz.

Conhecia todos que ali estavam, e os novatos que chegavam, logo tratavam de enturmar-se, mantendo vinculo com todos que por ali passavam. Cantava, bebia, fumava, conversava e se divertia. Algo típico de uma jovem de mais ou menos 25 anos. Solteira e sem pressa de se amarrar Bruna sempre falava que sua liberdade não tinha preço. Gostava de ir e vir sem dar satisfações a ninguém.

Dançava e arrumava-se de forma sedutora, porem normalmente incomodava-se com o olhar de um certo homem que de tempos em tempos ali visitava. Roberto, um jovem de 22 anos, solteiro, muito ocupado devido a faculdade e o trabalho, às vezes dava-se ao direito de tirar uma noite de folga para curtir uma boa musica.

Era uma espécie de terapia particular. Roberto não ia aquela casa para encontrar amigos, muito menos para paquerar, mas sim na maioria das vezes passava todo o tempo sozinho, sentado à grama, degustando uma cerveja e ouvindo uma boa musica. Seu olhar era penetrante e a tempos que ele obsevava Bruna, com seu jeito largado de ser e levar a vida. Esta relação não passava dos olhares trocados, o que intrigava ambos.

Bruna sentia-se observada por Roberto, enquanto ele sem vergonha alguma desfrutava desta mistura de mistério e beleza que o levava a mergulhar num mar de serenidade. Uma boa musica, cerveja e uma bela mulher para admirar. O que seria melhor para um sábado a noite questionava Roberto seus próprios pensamentos.

E por muito tempo está relação não passou dos olhares trocados um ao outro. Da desconfiança e desconforto de Bruna ao ser observada, e a admiração e curiosidade de Roberto a ver tal beleza. O que mais intrigava Bruna era não entender o porquê de nenhuma investida além dos olhares.

Ela esperava alguma atitude de Roberto, afinal, ele também tinha sua beleza que misturava-se com o enigma de seus olhares,  porem o tempo passava e nada acontecia. Foi então que o desconforto passou a ser curiosidade de descobrir quem afinal era aquele homem que tanto a admirava em silencio, imerso em seu próprio mundo.

Bruna, por vezes comentava com as amigas o quanto aqueles olhares nada disfarçados a intrigavam. E como este desconforto passou a ser de certa forma uma curiosidade, ou talvez admiração se assim preferirem chamar. Via-o de tempos em tempos, afinal, Roberto não costumava dar-se ao direito de muita diversão, uma vez que as escolhas de sua vida o levaram para uma jornada intensa de estudos. E o que restavam até então a Bruna, eram apenas perguntas.

Foi então que num domingo, em pleno ápice do verão Bruna decide tomar uma atitude que a tempos é esperada por ela. Roberto como de costume estava sentado à grama tomando uma cerveja e distraído pela musica que tocava, quando Bruna sem muito pensar nas consequências, senta ao seu lado e nada fala a espera de um comprimento, ou ao menos uma palavra de Roberto. Vários minutos se passaram, e nem uma palavra foi dita. Apenas um olhar penetrante que a fez sentir suas pernas estremecerem.

Para sua surpresa nada aconteceu! Após alguns minutos trocando olhares, Roberto limitou-se a voltar sua atenção para o palco, onde algumas pessoas tocavam um clássico do rock. Bruna sem saber ao certo o que fazer sentia uma raiva misturada com incerteza tomar conta de si. Pensou em falar qualquer coisa, mas preferiu ficar ali, por mais alguns minutos, para saber se realmente tudo terminaria assim, apenas no silêncio.

Passado alguns minutos Roberto deixa sua cerveja cair ao chão, olha para Bruna, novamente com um olhar que penetra de tal forma seu ser que a faz ficar imóvel, então a tão esperada investida acontece. Roberto lentamente aproxima-se e rouba um longo beijo que faz com que Bruna deixe sua cerveja também rolar ao chão e se entregue aquele momento.

Um longo beijo molhado que fez bruna ficar atônita e sem reação. E para sua surpresa já havia esquecido da raiva que antes crescia dentro de si, e agora estava feliz, e surpresa por ser beijada de tal forma. Uma atitude que com certeza não é todo dia, ou todo homem que toma com tanta coragem e confiança.

Com certeza valeu esperar tanto tempo para ter um beijo como este, pensava ela.

Mas acabou-se o beijo, e Roberto rapidamente juntou suas coisas e partiu para casa sem ao menos explicar o ocorrido. Bruna ainda descompassada deixou com que Roberto fosse sem preocupar-se em questionar ou ao menos despedir-se dele.

Por noites aquele beijo ecoou nos pensamentos de Bruna enquanto ela permanecia deitada em sua cama. Aquela que por vezes, sentiu-se como uma ilha, agora via-se invadida, inundada pelo sentimento daquele beijo.

Por muitas vezes Bruna como de costume voltou para reencontrar Roberto, mas para sua surpresa ele nunca mais voltou. Foi embora e levou consigo seu beijo sem ao menos agradecer ou então se explicar. Bruna nem ao menos sabia seu nome, para quem sabe poder procura-lo, restando apenas na lembrança, aquele momento em que um beijo lhe foi roubado por um estranho admirador.

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