O ateísmo não é um bicho de sete cabeças!

No início desta semana, fui convidado a participar de uma pesquisa, onde deveria responder a algumas perguntas acerca do ateísmo e suas particularidades. Confesso que fiquei em um primeiro momento curioso, e após ter contato com a pesquisa, a curiosidade deu lugar a euforia, por ter encontrado ali espaço para falar, discutir e até mesmo problematizar algumas das coisas que ainda hoje fazem-me contorcer na cadeira a qual sento para escrever.

Esta oportunidade reascendeu algumas das muitas questões que surgem-me a partir da observações que faço da sociedade, quando questionado sobre minha religiosidade, ou mesmo quando me deparo frente a tentativa de uma imposição religiosa como única verdade. Parece-me que, mesmo hoje, vivendo em uma sociedade dita livre de preconceitos e preceitos morais, uma das questões que se mostram extremamente obscuras e sem o devido espaço para discussão é o ateísmo.

Confesso que está oportunidade me deixou feliz, não apenas por saber que as informações serão utilizadas de forma responsável, mas também porque, será algo que contribuirá para promoção e construção de discussões acerca do ateísmo, temática até então pouco discutida. Ou mesmo, sendo mais realista, tema ainda hoje repudiado pela grande parte da população.

A falta de conhecimento e as ideias equivocadas acerca do ateísmo, mostram-se como fatores que contribuem para a continuidade e manutenção do preconceito existente. Outro fator, que pode ser colocado como determinante para a falta de abertura acerca de discussões sobre o ateísmo, e a própria cultura.

Vivendo em um meio, no qual toda criação é pautada em preceitos e valores religiosos, entende-se a dificuldade apresentada para a aceitação daqueles que se colocam contra esta realidade. Ser ateu em uma sociedade religiosa, é caminhar contra uma verdade instituída a séculos, e que vem sendo repassada de geração a geração.

Ou seja, não crer em Deus, meche em toda uma verdade socialmente instituída, e mesmo familiarmente colocada e ensinada a muitas gerações. Segundo dados do último censo do IBGE de 2010, apenas uma pequena parte da população declara não acreditar em Deus, ou não ter uma religião pré-estabelecida, restando um grande número, da população que se declara crer em Deus e seguir de fato uma religião. Percebe-se então, que o ateu, se coloca em contrapartida a toda uma organização cultural.

Muito se fala acerca do preconceito em vários âmbitos da sociedade atualmente. Discussões, sem dúvida válidas, e de extrema importância para a desconstrução de muitos paradigmas existentes. Porém, por várias vezes me pergunto, o quanto esta temática também não merece atenção. Não quero aqui, promover uma imposição de ideias, nem mesmo colocar o ateísmo como verdade a ser seguida pela população, mas sim o objetivo é repensar algumas questões que concernem as particularidades e o preconceito ainda existente acerca do sujeito que se diz não acreditar em uma figura divina.

Não é difícil encontrar olhares desconfiados, ou mesmo, julgamentos pautados apenas na moralidade sobre o sujeito ateu. Entender que este, independente de seguir ou não uma religião, também é um ser humano, com sua singularidade, é elemento necessário para a manutenção da convivência e do respeito as diferenças.

 

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