Artigo: Cônego Miguel Giacca

 Florianópolis, 5 de março de 2015. Ademar Arcângelo Cirimbelli

Há setenta anos, no dia 5 de março de 1945, falecia o primeiro pároco de Nova Veneza, o Cônego Miguel Giacca. Nasceu na cidade de Cuneo, Província de Turim, em 13.7.1878. Ordenado padre em 28.12.1902 na Diocese de Saluzzo, Província de Turim, chegou na Colônia de Nova Veneza em fevereiro de 1909, com 31 anos de idade e quase 8 de sacerdócio. O Padre Giacca, como era chamado, “foi uma pessoa carismática, de grande energia e muito trabalho”. A Paróquia compreendia uma extensa área, de Meleiro a Urussanga, geralmente percorrida a cavalo, em estradas precárias ou em caminhos na mata virgem.

A revista da época, “La Nuova Italia”, assim descreve sobre a vida do Padre Giacca: “No ano de 1910, a Colônia de Nova Veneza começou a tomar nova vida e isto se deve à presença de um sacerdote, o Reverendíssimo Padre Miguel Giacca que, animado da melhor boa vontade, pondo em obra todos os seus bons sentimentos, reuniu todas aquelas forças dispersas, irmanou-as, fez surgir o amor ao trabalho, onde existia o desânimo, despertou a confiança, onde existia a desconfiança, enfim, formou um povo unido, amante do trabalho, da harmonia e da honestidade, propondo-lhe um grande ideal: o de melhorar a sua sorte” (In. MARQUES, Agenor Neves. Imigração Italiana. Criciúma, Ed. Gráf. Ribeiro, 1978, p.157).

Com seu trabalho e incontestável liderança, implantou a Paróquia de Nova Veneza; construiu (em duas etapas) a bela Igreja Matriz de São Marcos, a Casa Paroquial e inúmeras Capelas no interior; dotou a Igreja de três monumentais sinos, do relógio e da réplica do Leão de São Marcos obtida em Venezia; viabilizou o Hospital de Caridade São Marcos; Escolas; Grupo de Escoteiros (o primeiro de Santa Catarina); a Sociedade Italiana, o Congresso Eucarístico de 1938; o Coral São Marcos e a vinda da Itália, em 1936, das Irmãs Beneditinas da Divina Providência.

No Grupo de Escoteiros, na instalação de escolas italianas e de entidades sócio-culturais, e na vinda das Irmãs Beneditinas, contou o apoio de seu particular amigo Dr. Cesare Tibaldeschi. Segundo registra o historiador Mário Belolli no livro “Jubileu Sacerdotal do Cônego Amilcar Gabriel, 1946-1996, Florianóplis, 1996, páginas 55 e 56, que tomamos a liberdade de reproduzir parcialmente, “o Pe. Giacca sempre gozou de boa saúde. Foi frugal na alimentação, e muito simples no seu modo de viver. Numa tardinha de 1944, ao subir numa escada que dava acesso ao sótão, foi ao solo, cujo resultado foi a fratura do fêmur da sua perna esquerda. A partir de então, seguiu-se uma interminável e longa enfermidade, sob os cuidados do médico do Hospital São Marcos, Dr. Dino Gorini. Mal restabelecido, apressou-se em começar a atender as capelas, porém, não mais andando a cavalo.

A partir daí, as viagens eram feitas com a ajuda dos “fabriqueiros”, que adotaram um transporte com o uso de uma charrete. Numa dessas viagens, a caminho da Capela de Jordão, no dia 18 de fevereiro de 1945, o cavalo fugiu das rédeas, tombando o veículo e, consequentemente, o seu passageiro, provocando um violento acidente, que levou o Vigário a chocar-se com uma pedra de razoável tamanho, causando-lhe a fratura do crânio.

Desta vez, não mais saiu com vida dos aposentos. No dia 5 de março, veio a falecer, aos 67 anos. A população foi avisada pelo som plangente dos sinos da Matriz e das Capelas. “Seu sepultamento (vide foto) foi uma verdadeira apoteose (glorificação)”. Praticamente toda a população esteve presente. Ainda hoje é muito lembrado e venerado. Segundo o Padre Amilcar Gabriel, o Padre Giacca “foi um verdadeiro Homo Dei – Homem de Deus”. Está sepultado na Capela do Cemitério Municipal de Nova Veneza, edificada em 1946, onde também se encontram os restos mortais do saudoso Cônego Amilcar Gabriel.

Ao Padre Giacca, verdadeiro pai e incansável assistente espiritual dos nossos imigrantes italianos e dos primeiros moradores, a gratidão, o eterno reconhecimento dos filhos de Nova Veneza.

Artigo: Cônego Miguel Giacca

Um Comentário