Ano novo,vida nova?

Estamos chegando a mais um findar de ano e as mensagens de reflexão se  proliferam pela internet. Árvores sendo enfeitadas, presépios, luzes, muito brilho e encantamento. Retrospectivas na televisão, melhores momentos. Um novo ano se avizinha. Novos projetos? Uma nova vida? Muitos dar-se-ão em presentes num automatismo sem fim, afinal é natal.Mas não adianta dar uma de bonzinho nessa época, se passamos o ano inteiro sendo indiferentes aos que estão a nossa volta. E embora a vida seja uma brisa suave que passa diante de nós como num piscar de olhos, para muitos o viver é uma balada de um tom só: EU, EU, EU… Você já se perguntou o porquê uns com tanto, achando tudo normal, legal… e outros tendo que ruminar as migalhas deste banquete chamado Brasil?

Somos uma sociedade que cultua as grifes, você é a marca de carro que dirige, o perfume que usa, a bolsa que carrega, o sapato que calça. Você não é mais você. Você é uma marca fantasia, num mundo projetado pelo departamento de marketing das empresas. O dinheiro, na verdade, traz conforto, e isso não é algo ruim em si. Mas a felicidade está no valor subjetivo que se dá àquilo que se tem.

Há aqueles ainda que durante o ano pisam, humilham, e sentem prazer no sofrimento alheio. Ostentam uma falsa riqueza. Frequentam colunas sociais, estão na mídia, adoram ser chamados pelo codinome “Doutor, Vossa Excelência”. Independente de classe social ou religião, essa praga tem se alastrado por todos os lados. Estão nos salões de beleza, bares, jogos de bocha… Em tudo contam vantagem. Coronéis sem ética, generais sem pátria. Amigos não possuem mais, ao seu redor apenas os chacais. Julgam os outros sob sua ótica de vida, e quando se deparam com pessoas que não estão à venda, sentem-se impotentes. Para estes “líderes”, as tão propaladas “soluções” para os problemas brasileiros não passam de canto de sereias a fim de enredar o maior número possível de pessoas nas redes de argumentações falaciosas, cujo objetivo de fundo é a dominação. Nada além disto.

Diz a Bíblia: “E, elevando-o, mostrou-lhe, num momento, todos os reinos do mundo. Disse-lhe o diabo: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue e a dou a quem eu quiser. Portanto, se prostrado me adorares, toda será tua. Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele darás culto.” (Lucas 4: 5-8). Agora eu pergunto, será que vale a pena ganhar tudo e perder a alma? Com que cara o tirano olha para sua esposa, para seu filho? Como será que ele se vê no espelho… Pois eu lhe digo, nada vêem. Estão cegos, são sepulcros caiados. Sua caridade é como a dos fariseus nos tempos bíblicos; sua religião é apenas uma aparência enganosa. Já não sabem mais a diferença entre verdade e mentira, pois tudo falam, tudo fazem, e nada mais importa.

Mas nossa sociedade é pobre de caráter, porque nós somos pobres. E a pobreza revela-se na avareza, ganância, mentira, roubo, vingança. O fato é que estamos anestesiados com os deleites desta “nossa” vida e não mais ouvimos a dor do outro. Afinal, a dor é do outro, não é minha. Não vivemos a verdadeira fé cristã, nós fingimos ser fiéis, mas não somos. Somos hipócritas e miseráveis, afinal, dividir o pão não é só dar esmolas, é dar abrigo, salário digno, educação, lazer e acima de tudo dar o que não se acha mais com tanta facilidade: dividir o pão é ser honesto. Porém isso ainda acontece porque  no fundo não somos um país de corruptos, somos de fato é uma nação de corruptores.

Mas nem tudo está perdido, a escrita tem o poder de exteriorizar o inconsciente  e interagir com o mundo, na busca de pessoas que ainda pensam  e não apenas subsistem numa sociedade que não pára para perguntar o porquê. Um dia, lembro que me perguntaram qual sistema econômico seria melhor: capitalismo ou comunismo? E eu respondi que na verdade não precisamos de um sistema novo, o que o homem precisa é de uma nova vida. Precisamos parar de mentir para o outro e para nós próprios. A sociedade precisa de um derramamento de amor, e de uma campanha institucional aos quatro ventos: “Só a verdade liberta”. O homem sem amor é escravo do seu ego, mas aquele que ama ainda consegue se ocupar com a vida do outro.

Gostaria de ser prefeito, governador ou presidente por apenas um dia e baixar o seguinte decreto: “Doravante estão proibidos toda demagogia, propina e apadrinhamento político. São também ilegais a mentira, a falsidade e a hipocrisia. Ame o outro como a si mesmo o fosse. Revoguem-se as disposições em contrário.” Penso logo existo? Não. Amo, logo vivo! Mas aí vem a pergunta: você ainda consegue amar?Resumo minha fala em uma frase: não perca a capacidade de indignar-se, pois quando isto acontecer, mesmo que ainda respires, você já estará morto.

Vilson Schambeck