Fez história: O coral que encantou Caravaggio

Por Tadeu Spilere – Nossa gente

Em 1975 e 1976, a Festa contou com a ilustre participação do Coral Palestrina, um dos mais importantes do país na época

Na casa da família de Círio Milanez (in memoriam) está preservada um pouco da história da Festa em Honra a Nossa Senhora de Caravaggio. Nas gavetas estão documentos que dizem muito sobre a organização de antigas celebrações no distrito de Nova Veneza. O arquivo pessoal deixa claro que duas edições da Festa foram especiais para Círio, na época envolvido com a organização.

Aliás, as edições de 1975 e 1976 ficaram preservadas na memória de muitos caravaggianos em virtude de uma presença especial. Veio para o Sul, especialmente para participar das celebrações, o Coral Palestrina/Villa Lobos, do Rio de Janeiro. O grupo era comandado pelo maestro Armando Prazeres, profissional reconhecido no cenário musical brasileiro e internacional.

O cartaz de divulgação de 1975, preservado entre os documentos, trazia o seguinte anúncio: “Para este ano abrilhantará a Festa o Coral Palestrina do Rio de Janeiro, dirigido pelo Maestro Armando Prazeres, diretor também do Coral da UEG (Universidade do Estado da Guanabara). O Coral Palestrina teve seu início na Paróquia Nossa Senhora das Dores do Rio. Graças a eximia habilidade e arte do Professor Armando Prazeres, alcançou fama dentro do Rio de Janeiro.

Hoje é conhecido também fora do Rio. Apresentou-se em São Paulo, Porto Alegre, Curitiba e outras cidades do Brasil, inclusive aqui em Blumenau. Como o Maestro e Professor é diretor de vários Corais, às vezes ele aparece dirigindo Corais com outros nomes”.

Os pertences de Círio, guardados pela família, demonstram a paixão dele pela música. Aparelhos de som, discos, gravadores e outros objetos ainda funcionam graças aos cuidados empregados. O filho Moacir Milanez faz questão de exibir, principalmente, os registros feitos pelo pai com o antigo gravador. Entre eles, a gravação de uma das missas de 1975 em que o Palestrina se apresentou. Sobre os cantos, Moacir comenta: “é emocionante, principalmente quando eles cantam Ave Maria”.

Com o trabalho da comunidade

Os documentos preservados por Círio evidenciam o esforço empregado pelos organizadores para trazer o coral do Rio de Janeiro

O objetivo de trazer o Coral Palestrina para Caravaggio demandou um grande esforço dos envolvidos com a organização da Festa e também da comunidade. Na época, bancar as despesas de um grupo de pessoas que viria do Rio de Janeiro era uma ideia bastante audaciosa.

Porém, de acordo com os documentos, os envolvidos não hesitaram em fazer tudo o que estava ao alcance para conseguir o feito inédito para o município e região.

Círio fez questão de guardar tudo o que envolveu o processo. São diversas correspondências para o maestro, para a universidade do Rio, para autoridades políticas. Com o apoio do governo municipal e estadual, além da ajuda de empresários, o objetivo foi alcançado. Os registros também contam com notas dos gastos, anotações referentes aos apoiadores, informações do coral.

Rubens Milanez (in memoriam), um dos irmãos de Círio, estava no Rio de Janeiro naquele tempo. Uma carta enviada a ele por Círio em março de 1975 deixa bem claro o momento de expectativa que a sociedade caravaggiana vivia. Um trecho da correspondência diz: “Rubens, o assunto do momento é o Coral.

Como falamos naquele dia pelo telefone, ficou definida a participação do Coral Palestrina/UEG, aqui em Caravaggio e Criciúma nos dias 24 e 25 de maio. A decisão da vinda desse Coral para a nossa festa está tendo grande repercussão aqui e em Criciúma.

Todos estão apoiando, até se prontificando a ajudar para cobrir as despesas da viagem. Realmente é manchete para a região. A notícia vai ser anunciada no jornal falado das rádios locais. Há bastante expectativa, ainda que falta bastante tempo para o dia 25 de maio. Tenho certeza que todos ficarão encantados com o Coral”.

E realmente ficaram encantados. O grupo retornou no ano seguinte e as duas passagens foram suficientes para deixar uma marca importante na história da Festa em Honra a Nossa Senhora de Caravaggio.

A morte trágica do maestro

O maestro Armando Prazeres teve a vida ceifada de forma trágica. Em 1999, foi vítima de um sequestro relâmpago e acabou morto com um tiro na cabeça. O caso teve grande repercussão nacional, tendo em vista a importância dele para a música brasileira.

O portal de notícias da Rede Globo publicou em 2013 uma matéria especial sobre a relevância do trabalho de Prazeres. O material inicia da seguinte forma: “Idealizador e criador da Orquestra Petrobras Sinfônica, o regente Armando Prazeres é considerado uma figura importante no mundo da música clássica, tendo contribuído para a formação de uma geração de músicos graças aos projetos criados por ele”.

Em 1970, gravou seu primeiro LP, com o Coral Palestrina, só com músicas brasileiras. O disco foi eleito por diversos críticos europeus como o melhor lançamento de música sul-americana na Europa.

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